Livro: Que somos nós afinal?

 Rodrigues, MF

1ª Edição Julho 2020 Aos meus filhos Ricardo e Mariana, com eles aprendi as coisas mais bonitas da vida. Índice

  1. Algumas palavras iniciais
  2. Que somos nós?
  3. Ainda gatinhamos
  4. Bem perto da verdade
  5. Tudo me é permitido, nem tudo convém
  6. O Caminho Perfeito
  7. A sabedoria dos Mestres
  8. Algemas do pensamento
  9. Abrindo outras portas
  10. A moda de ser espiritual
  11. Os infortúnios ocultos
  12. Desapego
  13. Não basta parecer
  14. Prostituir a essência
  15. Intuindo mais além
  16. Carma de solidão
  17. Solidariedade de cura
  18. Terapia da gratidão
  19. O que realmente importa
  20. Do amor
  21. O poder do Silêncio
  22. A história no feminino: Helena Petrovna Blavatsky
  23. Processando o egoísmo
  24. “Memento mori”
  25. Perceber a morte
  26. Um novo começo
  27. Alienação

Bibliografia consultada



Capítulo I

»» Algumas palavras iniciais

Gastamos a vida a acumular demasiadas coisas que, acabamos a comprovar, irão contribuir para atrasar a nossa caminhada rumo à evolução que viemos procurar neste plano.
Materialidade que numa primeira fase resolve os nossos problemas quotidianos, mas pouco a pouco e fruto de uma ambição desmedida, vamos querer aumentar, tornando-se cada vez maiores as nossas necessidades, a ponto de já só vivermos para essa vontade de ter.
Infelizmente, percebemos tarde demais que as coisas preciosas do planeta são de graça e estão ao alcance de cada um de nós.

Neste ano de 2020, quando pelo mundo todo a pandemia do Covid 19 explodiu, percebeu-se rapidamente que o oxigénio que damos como adquirido e grátis é a salvação de muitas pessoas infetadas pelo vírus.
E não foram pobres, nem ricos, nem mulheres, nem homens afetados por este perigo invisível e mortal.
O vírus tem-se mostrado transversal a todas as classes no mundo e mesmo com todo o poder e dinheiro, quem ficou infetado não tinha como comprar a cura.
Irónico, quando sabemos que em pleno século XXI ainda se morre por falta de dinheiro para pagar a saúde.
Por conta desta doença, respirar tornou-se perigoso, a liberdade de movimentos ficou condicionada e não fora a rede de contatos estabelecida com base nas redes sociais e o drama da morte, da fome e do aumento do crime teriam sido avassaladores.
Nesta fase em que parece, embora com muitas medidas de segurança, vamos retomando as rotinas, era bom que todos tenhamos percebido a grande lição que fica: o mundo é um lugar perfeito e o ser humano é que complica tudo com a ganância e a maldade do seu coração!

Tomemos consciência da nossa pequenez perante a obra maravilhosa ao nosso alcance e sejamos merecedores de habitar este planeta, usufruindo do que nos rodeia de acordo com as necessidades pessoais e coletivas.
Não é errado ter bens materiais.
Errado é acreditar que são nossos para sempre.
Errado é não os usar para o bem comum promovendo postos de trabalho, resolvendo os problemas que se espalham um pouco por todo o mundo, de falta de infraestruturas fundamentais à vida digna de muitas populações.
Não é errado ter poder político e social.
Errado é usar esse poder apenas para consumo próprio e não para resolver os problemas daqueles que se alega representar.
Duma forma que ainda não sabemos mensurar, sempre nos é devolvido o que doamos aos outros.
Vamos olhar o mundo de modo diferente.
Com gratidão por tudo o que nos dá a cada dia graciosamente.
O sol, o ar, o teto que nos abriga, a água que nos mata a sede, a inteligência de que somos detentores.
A saúde física que nos permite o pão de cada dia, com dignidade e alguma ambição para melhorar a nossa vida e a de quem amamos, mas com respeito pelo planeta, porque sem ele nada nos será provisionado.
O ser humanos tem-se esforçado bastante em desequilibrar esta casa onde todos temos que morar.
Façamos um ato de contrição pela forma como temos subestimado este sítio onde precisamos permanecer e não adianta berrarmos uns contra os outros, achando que uns são mais culpados.
Observemos o céu, as árvores, o mar… a harmonia da natureza.
Tanta coisa podemos aprender apenas pela observação desse equilíbrio entre a fauna e a flora.
Lições silenciosas de tanta sabedoria!
Um simples mergulho no mar repõe as nossas energias, lava a nossa alma e acalma as nossas intranquilidades.
A nossa vaidade despreza a sabedoria que os nossos ancestrais dominavam, quando retiravam da natureza a cura para os males do ser humano.
Não se pode voltar atrás, tal é a Lei!
Pode-se, no entanto, conjugar entre o que temos agora e o que está sempre ao nosso alcance como forma de nos melhorar a saúde do corpo e a evolução do espírito.
Sejamos gratos e respeitadores por todas as coisas a que temos acesso gratuitamente e deixemo-nos de tantas queixas.
Ninguém tem a certeza dos dias, por isso façamos de cada dia uma dádiva que nos é oferecida.
Como um livro de folhas em branco que nos é entregue, onde a cada dia vamos registar as coisas boas que tivermos oportunidade de fazer.
Esse livro será a nossa vida realizada.
Esse livro terá tanto ou mais sucesso conforme a beleza e as escolhas acertadas que lá colocarmos.
Será mais ou menos útil, conforme a sensatez dos nossos atos registados diariamente.
Ficará como nosso testemunho e o nosso testamento…


Capítulo II

»» Que somos nós?

Passam as civilizações na roda inquebrantável do tempo, irrevogavelmente e silenciosamente…
E passam também todos quantos deixaram os seus nomes nos anais da história.
Tudo passa e tudo se dilui na poeira do tempo...
Ficam os testemunhos mudos para contar às gerações vindouras que outros já passaram por aqui…
Obras grandiosas da megalomania de reis e imperadores.
Obras-primas de filosofia. pintura, escultura; tratados de matemática, alquimia, astronomia...
Sabedoria que abarca o céu, a terra e os mares.
Grandes nomes, que viram mais e mais além e tantos documentos históricos que são as pedras basilares da nossa civilização.
Povos antigos, iguais aos povos atuais, vivendo num tempo diferente, mas com sonhos iguais: o sonho de serem felizes!

Hoje, que somos nós?
Mais sábios que ontem?
Acumulamos no nosso ADN a sabedoria ancestral, ou perdemo-nos por entre o emaranhado de tantos conhecimentos horizontais, roçando superficialmente a sabedoria?
Seremos a semente divina nesta escola terrena, onde Deus quer que prossigamos no nosso aprendizado para voltar a Ele?
Somos os seres mais inteligentes do planeta, ou tomamos para nós esse papel, ignorando a responsabilidade que daí advém?
Estamos no rumo certo ou cada vez nos afastamos mais do caminho perfeito?
A nossa pequenez mistura-se com a nossa arrogância de donos do mundo, como se o planeta precisasse nós e já dizia Charles Darwin:

“Durante 2 biliões de anos a terra "viveu" sem os seres humanos, sem que eles fizessem falta.”

Equiparamo-nos à grandeza da criação com sobranceria, por umas quantas conquistas da ciência, esta muito longe ainda de explicar o homem, menos ainda o universo.
Afrontamos permanentemente as leis da natureza, num desrespeito irracional, pondo em risco a nossa viabilidade na terra.
Geradores dos nossos conflitos pessoais, mas culpando sempre fatores externos, quando a bem da verdade esses conflitos só decorrem das nossas más escolhas, sempre que ignoramos os princípios éticos e morais que nos deveriam nortear.
Perseguimos o sucesso, sem atender às consequências que essas escolhas podem acarretar quando não adequadas à nossa essência, usando como desculpa a pressão social para a precipitação das nossas opções.
Desvalorizamos o progresso espiritual, sem perceber que essa necessidade virá a nós de qualquer maneira.
Negamos as leis da consciência, acreditando que só afetam os mais simples, sem ambição.
Muitos acreditam que estão no comando do destino e que em qualquer altura poderão voltar ao caminho desviado.
Tantos vivem uma vida de ilusão, adulando apenas o sucesso e rindo dos que correm para recuperar o tempo perdido numa vivência de frivolidade.
Mas, o tempo passa para todos à mesma velocidade e muitas vezes já não há como corrigir o passo.

É chegado o momento em que os seres em estágio na Terra, devam tentar superar o egoísmo de que são portadores em busca da renovação que tarda.
É tempo de converter as nossas sombras em luz!
Toda a elevação necessita de esforço, adaptação e sacrifício, enquanto toda a queda resulta em prejuízo, desencanto e recomeço:

“A maior glória não é ficar de pé, mas levantar-se de cada vez que se cai.” Confúcio

Trabalhemos, pois, a nossa intimidade, vencendo os limites impostos, a maioria das vezes por nós mesmos, porque vaidosamente achamos que os nossos erros são menores e que o nosso tempo não passa da mesma forma.
Que temos sempre tempo para aprimorar o nosso comportamento e que a leis da moral só afetam os mais frágeis. Engano fatal!
Somos todos iguais, quer tenhamos muito ou pouco poder, muito ou pouco dinheiro.
O tempo limite apresenta-se a todos da mesma maneira e não há como contornar a iminência do fim quando aquele nos reclama.

Vigiemos, pois, os nossos passos, com algum rigor, usufruindo as alegrias que a vida tem para nos oferecer, em harmonia com o que se ajusta à nossa essência espiritual.
Temos ainda muitas paisagens a percorrer e muitos caminhos a trilhar, na sucessão de oportunidades que nos são dadas e só a reforma intima nos dará o ânimo e a paz que perseguimos…

Capítulo III

»» Ainda gatinhamos

Nascemos nus, simples e sem maldade, mas independendo do berço em que nascemos, vamos moldando o nosso caráter, sempre a partir da natureza do que somos.
Se essa natureza é de boa índole, nem berços de oiro, tentações ou ostentações nos influenciarão no mal.
Se a nossa natureza é de fraca índole, temos todas as probabilidades de escolher o caminho torto.
No livre-arbítrio que Deus nos deu, nem mesmo Jesus se atreveu a mexer e desse modo, termina a nossa desculpa para fazer as piores escolhas, porque a verdade está sempre a ser sussurrada aos nossos ouvidos através da consciência divina com que todos somos dotados.
Apesar de muitos não acreditarem na divindade do homem, só precisam olhar em volta e ver a sua grandiosidade quando convive e recria harmoniosamente a natureza, criada pelo Ser Perfeito que tanto nos ama apesar da nossa rebeldia.
Recorrentemente, valoriza-se mais a beleza física que a beleza moral e ética: dos cremes às cirurgias, tudo vale para atingir uma perfeição fictícia e o espelho da ilusão apenas reflete o que queremos ver.
Porque o espelho da alma, aquele que não temos como comprar, se o pudéssemos ver nos mostraria quão feios podemos ser por debaixo de roupas bonitas e corpos com tratamentos de milhões.
Deus fala connosco a todo o momento, através de uma consciência que nos é dada, que nos julga e nos esclarece sobre o caminho reto, mas muitos acham que estão acima do certo e do errado, acima do mundo, acima de Deus.
Iludem-se, acreditando que nada os destruirá!
Que nada, nem ninguém os derrubará!
Mas, no fim de tudo, mesmo que envolvidos em todo o luxo que compraram, roubaram ou simplesmente herdaram, ficarão a sós com o juiz mais impiedoso dos atos duma vida inteira: a consciência.
Foi entregue ao homem um planeta perfeito, uma natureza saudável, mas este, supostamente, o mais inteligente dos animais tem-se encarregado de inquinar este mundo com os seus desvarios, a sua soberba e sua noção de posse de um lugar, onde apenas está de passagem.
E nem o facto de ter filhos, netos, descendência, o impede de comprometer o futuro que vai deixar para eles.
Inteligência é isto?
Não, é a enorme arrogância de quem se julga imortal e acima de qualquer lei.
Se, fossemos verdadeiramente inteligentes, provavelmente já teríamos encontrado soluções para os problemas menores que grassam no mundo pobre: fome, doenças, miséria, que contrastam ironicamente, com as chamadas doenças do mundo rico: bulimia, anorexia, acesso fácil a medicamentos e automedicação.
Os primeiros gostariam de não ter esses problemas; os segundos parecem procurá-los.

Ao invés de arrumarmos esta casa onde vivemos, cheia de flagelos por resolver, andamos a procurar buracos no espaço.
A gastar somas astronómicas na exploração interplanetária, para catar pedras lunares a que damos o valor da roda, quando cá por baixo temos uma casa quase completamente destruída.
Não sou de modo nenhum contra a exploração de outros espaços e conceitos, mas há que tratar primeiro das nossas incompetências na gestão deste pequeno planeta, antes de queremos ser donos do universo: ninguém entra na universidade sem passar pelo ensino básico e secundário…
Afinal se o homem até já foi à Lua e a Marte, deveria ser bastante simples para ele resolver os problemas menores que temos por cá.
Se não fosse triste, dava para rir da soberba do ser humano a brincar aos deuses…

Capítulo IV

»» Bem perto da verdade

A verdade é uma estrela,
quebrada em milhões no lodo.
Cada pessoa que a busca,
encontra um pedaço do todo

As grandes ideias, as que se baseiam na verdade não aparecem subitamente.
Vão-se aprimorando através de precursores que vêm preparar os caminhos e os corações.
Esses primeiros iluminados vêm com o propósito de achar entre o céu e a terra pedaços de sabedoria.
Virá, a seu tempo, o génio cuja missão é ordenar o que está disperso, colmatando o conhecimento em falta, organizando-o e entregando-o ao mundo para o seu progresso.
Acontece em todas as áreas:
É assim com a ciência, a medicina, as artes…
Como numa sementeira, Deus envia os seus emissários, cada qual com uma semente que é lançada à terra.
Mais tarde chegará aquele que fará a colheita e a entregará ao homem.
Cabe a este, fazer bom uso dessa colheita!
Daí que, ciclicamente sejam feitas descobertas, quase em simultâneo, em vários cantos do globo, trazendo soluções para alguns dos desafios da humanidade.
Apenas como exemplo, de entre muitos, há evidências de veículos com rodas que datam da metade do quarto milénio a.C. e que apareceram quase simultaneamente na Mesopotâmia, no Cáucaso e na Europa Central.
Como a história não dá saltos, tudo acontece pela intercessão divina, na intuição dada àqueles a quem é entregue essa missão e sempre sob o comando do Grande Arquiteto do Universo.
A grande verdade, que veio com Jesus à terra foi previamente anunciada por João Baptista, cuja missão foi preparar as almas para a vinda dum Salvador, alento de pobres e infelizes, num tempo de aridez das almas e num mundo sem esperança nem amor fraternal.
Tal aconteceu também com a ideia cristã, que foi intuída muitos séculos antes de Jesus e dos Essénios.
Sócrates e Platão, foram também eles precursores da ideia cristã.
Sócrates, tal como Cristo, nada escreveu: por ele escreveu Platão.
As palavras de Jesus deixadas aos homens, foram registadas pelos discípulos e seus sucessores.
Jesus Cristo, teve a morte reservada aos criminosos, por enfrentar a mentira dos poderosos, com a verdade da Sua Divina palavra.
Sócrates foi morto por pretender que os seus concidadãos encontrassem em si mesmos a verdade.
Ambos foram acusados de estar a corromper o povo com as novas verdades, a nova do Reino de Deus, da imortalidade da alma e da vida futura.

Aos que entendam neste paralelo uma profanação e que não pode haver comparação entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, lembrarei o que deixo dito atrás: Deus manda os seus emissários para preparar o caminho que será mais tarde, no tempo certo, transformado em verdadeira colheita da Lei do Amor de Deus:

“Só a verdade e o amor prevalecem para além do tempo.” Mahatma Gandhi

Sócrates (470-399 a.C.) e Platão (427-347 a.C.) acreditavam que o homem é uma alma e que antes de encarnar está ligada à ideia do verdadeiro, do bem e do belo.
Traz consigo as recordações dum passado onde era feliz e onde quer voltar.
Ensinado por Sócrates, registado por Platão, a certeza da preexistência da alma e da intuição que guarda desse mundo das ideias: o mundo inteligível.
A intuição de Deus, de que somos partículas divinas, vem da antiguidade e muitos filósofos desde o Egito, Índia, Grécia e o Império Romano, o tem referido ao longo dos tempos.
Somos seres que já habitamos onde a perfeição existe, num mundo perfeito e onde haveremos de voltar num tempo determinado superiormente.
Por razões que as religiões explicam, cada uma do seu jeito, o ser conhecido por homem foi colocado neste planeta para se aprimorar.
Traz na bagagem reminiscências das suas vidas passadas, do bem e do belo.
Traz na bagagem ferramentas para se tornar infinitamente melhor e só não o é pelas distrações a que se entrega, bem como pela preguiça mental que o acompanha.
A alma se transvia e se perturba, quando se prende a coisas que estão, pela sua natureza, sujeitas a mudanças. Ao mesmo tempo, se engrandece quando contempla a sua própria essência, pura, eterna e imortal.
Aquele, que já está no caminho da sabedoria, tem de isolar do corpo a alma, para ver com os olhos do Espírito, pois o corpo é matéria e obstáculo no caminho da espiritualidade maior.
O sábio esse, já não tem medo da morte do corpo, pois sabe que a verdadeira vida começa após essa libertação.

Capítulo V
»» Tudo me é permitido, mas nem tudo convém

Trazemos em nós a glória dos séculos, a sabedoria dos génios que passaram por aqui.
Está ainda nos nossos olhos a beleza de outros lugares por onde já andamos, mas continuamos a desperdiçar a intuição da verdade, emaranhados nas distrações com que nos alienamos.
Achamo-nos hoje, mais que ontem, seguros da nossa importância no mundo sem, no entanto, fazermos melhor.
Os mesmos flagelos dos primeiros tempos estão por todo o lado.
A mesma barbárie…
O mesmo desamor grassa entre as nações...
Esse lobo insaciável que o homem alimenta dentro de si, permanece tão selvagem como outrora.
O conforto dos velhos e sábios ensinamentos, estão para serem apreendidos, mas a arrogância da falsa inteligência e a falta de humildade, promovem o desperdício dos conceitos da moralidade, fundamentais para alicerçar as bases sólidas do homem integral.
A luxúria cega os nossos olhos e já só acreditamos no brilho das pedras falsas, como falsos são agora os nossos ídolos que se desacreditam a si próprios. Somos almas vazias, errantes, cada vez mais perdidas do rumo a seguir.
Não atendemos aos sinais que nos alertam, reminiscências que permanecem em nós, mostrando pedaços dos caminhos já percorridos e dos erros que viemos para corrigir, na nova oportunidade que nos é dada e antes que o tempo acabe.
O véu de Ísis veda os nossos olhos para o que fomos antes do agora.
Dizem, os que o sabem, para não perturbar o nosso progresso.
Apesar desse véu, chegam a nós lampejos de memórias do que já vivemos e viemos agora corrigir.
Muitos que não se esforçam por lembrar, entregam-se aos desvarios que os irão perder de novo.
Mais fácil o conforto do ruído que o confronto com o silêncio de quem somos: imperfeitos e ignorantes das verdades gritantes na solidão dos nossos dias connosco.
Umas vezes confiantes, outras inseguros, duvidamos de quem somos: uns dias deuses; outros, apenas sombras que se arrastam rogando a piedade divina. Esvaziada a alma da essência que a nutre, resta a matéria perecível.
Só que o tempo que nos é entregue como vida, tem uma finalidade: a oportunidade de sermos melhores e fazermos melhor, arrastando outros connosco, pelo amor ao semelhante.
Temos do nosso lado o direito de escolha, porque Deus, ao contrário de outros deuses não é um pai tirano que obriga os seus filhos a fazerem o que não querem.
Como Pai amoroso espera de nós as melhores escolhas e progresso.
E como seres capazes, temos a última palavra pelo uso do livre-arbítrio:

Podemos fazer de tudo, mas nem tudo nos convém! Coríntios 6:12

Tudo nos é permitido, mas nem tudo é licito que o façamos!
Pese embora, tudo nos ser permitido pelo uso do livre-arbítrio: ferir, magoar, ultrajar e trair os outros, só fará aumentar os nossos compromissos cármicos que, a qualquer altura seremos chamados a liquidar.
Podemos viver os prazeres do mundo sem nos tornarmos escravos deles. Com a liberdade de fazer escolhas, doseadas pela responsabilidade sobre os nossos atos.
Só assim a vida pode ser levada, sem exagerados sacrifícios e sem a fanatização que nos impede a integração no mundo e com os outros.
Aquele que se distancia do mundo voluntariamente, perde a oportunidade de se aperfeiçoar, porque é no contato com as chamadas tentações que nos tornamos mais capazes de resistir ao que não nos convém.
Não há pois, qualquer mérito em nos isolarmos do mundo para não sermos contagiados pelos prazeres terrenos.
Pensar que somos melhores que os outros, só porque nos isolamos, para não ficarmos expostos aos vícios do mundo é pura ilusão.
Só na proximidade com o semelhante, travando lutas iguais poderemos discernir o que é mais adequado ao nosso progresso espiritual.
Fugir do mundo a título de pureza, é na maioria das vezes simples hipocrisia.
Tal como a lei dos homens julga os bons e os maus atos, também a Lei de Deus nos irá julgar.
E um dia, a todos nós será perguntado o que fizemos com os talentos que nos foram outorgados.
A quem auxiliamos, matamos a fome, socorremos do frio.
Um dia, ser-nos-á perguntado o que fizemos com os dons que nos foram concedidos. O que fizemos pelo nosso semelhante?
Qualquer pequeno gesto nosso, pode ser grande na vida de alguém. Acreditemos ou não em juízes da terra ou do céu, um dia, todos estaremos perante o juiz implacável da nossa consciência.
E mesmo aqueles de entre nós que não valorizam o auto-julgamento, no seu último minuto sentirão a paz ou o medo pelo curriculum de vida que tenham desenvolvido.

Que bom seria, que o ser humano, acreditando ou não no julgamento final, atendesse pelo menos, ao GPS interno que insistentemente o quer conduzir pelo caminho perfeito…


Capítulo VI

»» O caminho perfeito

O Livro do Caminho Perfeito representa uma síntese do pensamento chinês, bem como de boa parte da filosofia oriental.
Da autoria de Lao Tsé, filósofo chinês, século VI a.C, influenciou, não só escolas de pensamento oriental, como o budismo e o zen, assim como também está enraizado no pensamento ocidental.

Lenda, mito, ou algo que está ao alcance do ser humano?
Todos, sem exceção, temos um caminho pelo nascimento.
Nas sociedades mais ricas ou mais pobres, todos podem escolher o que os favorece material e espiritualmente.
Tem-se um pouco a ideia de que, pessoas que nascem na miséria absoluta não têm escolha e nem conseguem afastar-se em busca de uma vida melhor; que certas más escolhas são resultantes de maus começos.
Até certo ponto é verdade: personalidades frágeis não tomam decisões fortes; pessoas criadas em ambientes degradados, famílias desestruturadas também terão atenuantes até certo ponto.
Cada um de nós pode arranjar as desculpas que quiser para as suas dificuldades ou para as suas tropelias, no entanto não pode desresponsabilizar-se permanentemente, culpando outros que por vezes já nem fazem parte das suas vidas.
Se se nasce com capacidades cognitivas suficientes para a autonomia e a independência, não será obstáculo o meio onde se nasce.
Sempre haverá, mediante o desenvolvimento pessoal, a possibilidade de buscar melhores condições de vida.
Todos têm escolhas!
Não serão as que se aspiram, ideais, ou merecedoras, mas serão sempre escolhas. O conformismo, a submissão, e por vezes a falta de coragem, são em geral, os entraves para não se procurar dentro do espaço onde nos inserimos um melhor rumo para o nosso desenvolvimento material e espiritual.
Claro que é sempre muito conveniente culpar o destino, a sorte ou o berço onde se nasceu:

“O sucesso é constituído por 1% de inspiração e 99% de transpiração.” Thomas Edison

Não podemos é esperar sentados pelo sucesso que entendemos os outros devem conseguir para nós.
Menos ainda querer sejamos levados pela mão para fazerem de nós pessoas melhores.
Erro desde sempre, em que se procura nos outros, o guru, o líder que pense por nós e nos conduza à felicidade.
Quase sempre o que encontramos são manipuladores que percebendo as nossas carências chegam a nós com facilidade, transformando-nos em marionetes, que irão adorar esses bezerros de ouro, sem sabedoria, sem valores e menos ainda liderança.
Os livros de autoajuda estão espalhados por todo o lado, cada qual vendendo a fórmula mágica para que se chegue à felicidade e nunca como agora, o ser humano parece tão frágil e influenciável.
Buscamos desesperadamente orientadores para os nossos passos, como se incapacitados fossemos.
E nesta sociedade, dita informada, emergem cada vez mais gurus da moda longínquos e caros, pretensos condutores de homens e mulheres e interessados em nos ensinar aquilo que já sabemos.
Retiros espirituais, workshops de tudo e mais um par de botas, todo um mercado caro para quem já tem quase tudo e com esse tudo não é feliz.
Homens e mulheres que ainda não perceberam que a sabedoria que procuram não se compra ao preço alto a que é vendida por esses vendilhões do templo, mas está dentro de cada um, assim cada um queira fazer o trabalho de casa:

“Buscamos fora o tesouro do nosso coração…” Jesus

Verdadeiro guru o nosso eu, grita silenciosamente pedindo a nossa atenção para o que é realmente importante.
Pela meditação, levada com seriedade, a disciplina de pensamento e aos poucos a pacificação da nossa alma, é possível chegar a pedaços de paz.
Que a vida não é receita de bolo para tudo dar certo no final.
É mais uma montanha que ora sobe, ora desce sem que ninguém saiba o que vai encontrar pelo caminho.
Por tudo isso, a insatisfação da alma tem que ser trabalhada todos os dias, através do apaziguamento e da gratidão.
Se realmente nos empenharmos, podemos eliminar algumas limitações de que quase todos enfermamos como a intolerância, a soberba, a lamentação permanente, abrindo dessa forma espaço às coisas novas que estão por todo o lado para a nossa aprendizagem e alegria de viver.
Há um mundo escondido aos nossos sentidos, que é preciso descobrir e apesar do meu respeito pela ciência, ela não responde a todas as perguntas que o espirito coloca.
Quando não desenvolvemos as nossas capacidades preceptivas, subestimando quem somos e do que somos capazes, o que observamos são os “arautos da verdade” cada vez mais ricos e os seus discípulos cada vez mais dependentes.
O caminho perfeito é árduo e inacessível à maioria de nós, que vivemos num mundo cheio de distrações que nos desviam dos objetivos de aperfeiçoamento, mas existe um caminho iniciante que todos podem eleger como aprendizado. Quando percorrido um pouco a cada dia, chegaremos a estádios de felicidade que de tão gratificantes nos vincularão para sempre à evolução que se quer, o ser humano atinja.
Somos uma miscelânea de sentimentos e sensações confusas e só com forte disciplina mental, ética e moral nos conseguiremos organizar e fazer boas escolhas evolutivas.

Capítulo VII

»» A sabedoria dos Mestres

Albert Einstein foi uma das mentes mais iluminadas da ciência.
Como físico, desenvolveu (entre outras) a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica.
Um génio da ciência, que partilhou com o mundo as suas descobertas, nem sempre aceites, nem sempre compreendidas, mas que prevalecem até aos dias de hoje de forma brilhante.
A teoria da relatividade de Einstein de 1905, hoje perfeitamente aceite, quando apresentada foi contraditada veemente pelos cientistas da época, tendo ele que travar algumas batalhas para a sua aceitação:

“Grandes espíritos sempre encontraram violenta oposição de mentes medíocres.” Einstein

Há personalidades que marcam o seu tempo.
Seres que passam pelo mundo e deixam a sua marca na história, pela força do seu carácter e pela coragem de assumir o que ainda é estranho para os seus pares e sociedade em geral.
Questiono muitas vezes de onde vem essa certeza e a força de ir contra a corrente, pois em geral estão sozinhos nas suas teorias vanguardistas.
De onde vem a sabedoria de alguns vultos da história que obriga à mudança na forma de pensar estabelecida?
Será apenas o estudo racional baseado na ciência?
Penso que não!
Digo que o ser humano não é só corpo, nem só espírito.
É antes, a soma dos dois e cada vez mais se comprova que todos os sentidos entram no nosso desempenho enquanto pessoas.
Acredito que o ser humano tem em si um acúmulo de conhecimentos que carrega no seu ADN, fruto de gerações e gerações que passaram antes de nós e que por um processo que nos transcende é colocado à nossa disposição, dependendo apenas de nós a sua utilização inteligente.
Albert Einstein poderá ter sido, entre outras valências, um físico e matemático, mas foi essencialmente um homem com grande intuição e que priorizou a sua perceção sobre as coisas.
Acredito ainda, que grande parte das descobertas e do avanço da ciência tem a sua componente na inspiração divina:

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” Fernando Pessoa

Antes da ciência, antes do homem, antes de tudo, está Deus!
Sempre Deus!
Ele envia ao mundo os mestres que ajudam as civilizações a evoluir, contrariando a passividade dos séculos e o conformismo dos povos.
Ele determina o acesso às verdades guardadas nos tesouros celestiais e que só certos homens e mulheres conseguem decifrar.
Seres são escolhidos e é-lhes permitido o acesso a mundos de sabedoria, onde vão em busca dos arquétipos para trazer ao planeta a inovação, a mudança de mentalidade, a arte, o progresso da ciência…
Mestres a quem é dado o privilégio, de se acercarem da plenitude e onde com os olhos espirituais podem intuir a sabedoria e a arte no berço da criação.
Enquanto seus corpos físicos repousam na terra, pela bondade de Deus, é-lhes permitido que seus corpos etéricos percorram os espaços siderais em busca da ideia intuída persistentemente, para que possam replicar no plano terreno cópias dessas formas divinas que ninguém detém.
Voltam ao corpo com a perceção da beleza observada e a recriam no mundo sensível e assim nasce a obra.
Platão (427a.C.-347a.C.) na sua intuitiva sabedoria, já se referia os dois mundos, sensível e inteligível.
O homem sábio é, pois, pelo seu merecimento ou missão, o intermediário entre os dois mundos.
É quem recria a beleza ou as verdades observadas no mundo das ideias, trazendo-as para o mundo sensível, onde o homem comum as poderá assimilar, comungando da beleza da criação:

“Os lábios da sabedoria só se abrem aos ouvidos do entendimento.” Hermes Trismegisto


Capítulo VIII

»» Algemas do pensamento

“Eu penso, logo existo” René Descartes

Descartes acreditava que, pelo pensamento o homem prova a sua existência. Até que ponto a existência é facto, quando o pensamento se encontra subjugado ou manipulado por outrem, seja ele: família, amigos, associações, cultos religiosos e por aí vai…
Como ser social o homem precisa do grupo onde se ampara e é muitas vezes aí o início da perda de autonomia de pensamento.
Por comodismo, influência, baixa autoestima, torna-se, por vezes presa fácil de manipuladores externos.
Em variadíssimas situações, por uma questão de sã convivência a influência não será perniciosa, mas quando ultrapassa o razoável, através de crenças, regras grupais, dogmas, medo do pecado, etc., dá-se a perda de identidade e em muitas situações a subjugação com fins nem sempre perceptíveis.
A subjugação do homem pelo homem é permanente e transversal à sociedade. Com que direito um homem subjuga outro homem e porque este se deixa subjugar?
Com que direito um homem se alega mandatado superiormente para dispor das vidas de outros homens?
E porque não há um rasgo de insubordinação a essa inibição de liberdade, por parte de quem está refém do pensamento de outros homens?
Apesar de subjugado, o homem não está privado de pensamento, nem de sentido crítico!
Porque prevalece a privação inconsciente e que mecanismo paralisa a vontade? Em todas as épocas existiu escravatura, física e psicológica.
Em pleno séc. XXI está presente na mesma proporção.
Seres humanos continuam a submeter-se física e mentalmente a outros, porque estes sabem usar a palavra, a violência, ou o medo e dessa forma manter cativos outros seres humanos.
Os cultos, a lavagem cerebral por que passam algumas pessoas, tem esse efeito: são essencialmente escravos de pensamento.
É-lhes roubado o que tem de mais precioso: a sua identidade de pensar.
Ficam cativos sem correntes e mesmo com as portas abertas, não sabem já sair do cativeiro.
Que estranho rapto de consciências é este que transforma pessoas racionais em simples marionetes dispostas a obedecer fielmente a todas as atrocidades.
Nem sempre pessoas destituídas de vontade ou de formação, mas pessoas, por certo, carentes de individualidade, de amor próprio, de vontade de pensar por si mesmas...
Só isso explica, assistirmos vezes sem conta, ao aparecimento de bons manipuladores de pessoas a que, teimosamente se insiste em chamar líderes, ou carismáticos.
Na minha opinião não são uma, nem outra coisa.
São tão somente pessoas que sabem fazer a mensagem à medida do interlocutor. Porque nos últimos anos se banalizaram as palavras, as pessoas aceitam essa banalização sem questionar.
O que observamos com frequência, é que muitos medíocres são chamados de líderes, apenas porque têm responsabilidades corporativas sobre outros. Quase todos estamos cativos de pensamentos externos, seja o chamado mundo livre ou não.
No mundo não livre, a propaganda política obriga a um pensamento único, com pesadas represálias para quem não pense de forma coletiva.
No chamado mundo livre, onde supostamente há liberdade de pensamento, a formatação das ideias é dissimuladamente da responsabilidade dos órgãos de comunicação, estes ao serviço do poder estabelecido e quase sem que o cidadão comum, menos informado, se aperceba dessa manipulação generalizada. Entendemos por poder, quem é mandatado politicamente para exercer o governo dos países, porém temos, dentro da pirâmide social grupos maiores ou menores onde cada um proporcionalmente, manda e ou manipula pessoas e pensamentos.
O sistema bancário, os órgãos de comunicação social, são exemplos de grupos que paralelamente ao poder eleito, tem demasiado poder de persuasão sobre o cidadão e dificilmente respondem pelos seus atos de camuflada manipulação económica ou social.
Poucos escapam a essa manipulação persistente, camuflada de informação que convém ao poder:

…uma mentira dita muitas vezes passa a ser verdade.

Como decifrar a verdade da mentira, numa sociedade que vê e lê as mesmas coisas, publicadas pelos mesmos órgãos de comunicação, cujo intuito não é a nossa informação, menos ainda a liberdade de pensamento crítico?
As pessoas estão tão dependentes de líderes e de condutores para as suas vidas que facilmente acreditam em quem lhes promete o paraíso.
Desde a religião, passando por cultos e acabando em associações de variadas tendências, tudo serve para caçar e aprisionar o pensamento do ser humano, obrigando-o a uma veneração alienada.
Pessoas com muita ou pouca formação, são transformadas em soldadinhos de chumbo marchando alinhados na mesma direção.
No fim das contas, não existe liberdade de pensamento, pois de forma generalizada estamos dependentes de uma informação trabalhada para formatar a nossa mente e quem não souber como escapar deste ciclo de pensar coletivo, dificilmente se poderá chamar livre.
Dificilmente existirá em plenitude.

Capítulo IX

»» Abrindo outras portas

É muito frequente nos tempos que correm as pessoas aderirem a modas como a meditação, retiros espirituais e tantas modalidades, dentro do género, de que todos falam como uma espécie de cultura de grupo.
Uns quantos saltam de tema em tema, sem se fixarem em nenhum e sem tirar qualquer vantagem para o seu amadurecimento espiritual.
Outros, com o tempo e prática acabam por criar genuinamente, hábitos salutares que agregam às suas vidas com evidentes melhorias na sua saúde emocional.
Há ainda uns quantos, com bom poder de compra que fazem o chamado turismo espiritual, agora muito em voga, acumulando umas quantas experiências, parecendo mais para valorização do seu curriculum profissional do que para o curriculum de vida.
Independentemente dos recursos económicos todos sem exceção podem iniciar-se na meditação e nas suas inúmeras vantagens.
Basta seriedade e disciplina e desde logo acreditar que a prática poderá trazer benefícios muito positivos.
A meditação faz-se em qualquer lugar e a qualquer hora.
Não são precisos rituais, roupas específicas, tão pouco adereços.
Meditar é tão somente parar, respirar e serenar…

Difícil no início, é facto, muito por conta da turbulência de vida, em que quase todos estamos envolvidos.
Necessário, pois, alguma coragem e muita disciplina, pois desde logo precisamos encarar o silêncio em nós mesmos.
O ruído, os estimulantes sociais como o álcool, drogas, e outros modos de nos alienarmos da realidade que nos rodeia, impedem o confronto com nós mesmos e a descoberta de que somos outros que não apenas o que achamos ser.
Ficar frente a frente com o nosso inconsciente não é para todos.
Expõe-nos a questões de difícil resposta.
Obriga a equacionar quem somos, e porque o somos.
Quantos de nós, no dia a dia, percebem, em alguns lapsos de tempo, a fuga para outros lugares?
Momentaneamente o nosso eu inconsciente se ausenta, vai a lugares de que não retém imagens e volta.
Quem nunca, ao conduzir um carro, por exemplo, viveu a experiência de percorrer quilómetros, de que posteriormente não lembra?
A memória desse percurso parece desaparecer!
Do mesmo modo, a nossa alma que já esteve em tantos lugares, agora também não lembra, todas as geografias e tempos em que viveu, por razões que ainda não estamos em condições de entender.
Porque são difíceis esses e outros questionamentos, o mais fácil para muitas pessoas é viver a vida, agarrar tudo o que dá prazer momentâneo e esquecer ou ignorar as consequências por comportamentos irrefletidos e muitas vezes antiéticos
Meditar com seriedade pode levar a nossa mente a trechos esquecidos, lugares de sombras, no caminho imenso que já fizemos.
No entanto, ficará sempre a dúvida quando vivenciamos essas memórias, se são pedaços do que já vivemos, ou partidas que a mente nos prega. A ciência ainda não explica este lado escondido do ser humano.
A meditação é importante e uma terapia útil para o estilo de vida atual, para onde somos empurrados.
Caos social em que a cada um é pedido se transforme em robot, sem qualquer empatia com as situações envolventes.
Meditar deve começar por pequenos momentos em que interagimos com a nossa consciência.
A análise comportamental, o ato de contrição acerca dos nossos erros ou a ofensa ao próximo, são excelentes exercícios para começar: “não fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem” é um excelente ponto de partida.
Criando este hábito diário, percebemos a serenidade que vem a nós naturalmente.
Com o tempo e o treino, aprendemos a relativizar os problemas.
Desenvolvemos a empatia com os outros, a tolerância e a entre- ajuda.
Essa partilha e essa compreensão do nosso eu, mostra-nos um mundo mais simples e mais humanizado.
Provavelmente será um caminho sem retorno, pois quantas mais questões são respondidas, mais questões vamos colocando, na ânsia de aprendizagem sobre o ser complexo que somos e estamos longe de conhecer.
Entretanto, para quem quer ir mais longe na experiência, muitos campos se abrem ao aprendizado.
Com ajuda da psicanálise, poderão ser acedidas memórias guardadas por entre a multiplicidade das nossas vidas, que muitas vezes, por razões terapêuticas precisam voltar a nós para serem entendidas e resolvidas de forma a não produzirem danos.

Importante estarmos em sociedade pois só assim podemos naturalmente perceber o nosso lugar e quem são as pessoas que melhor servem ao nosso crescimento.
Se estamos em vantagem relativamente a alguma evolução espiritual, compete-nos fazer a diferença na partilha dos conhecimentos a que chegamos.
Se tal for bem-recebido, fizemos a nossa obrigação. Se não for, é porque não é chegado o momento de o outro progredir connosco.
O mundo é o laboratório onde fazemos as nossas experiências e de onde tiramos o material de estudo.
Somos o todo e o todo somos nós!

Capítulo X

»» A moda de ser espiritual

As redes sociais são uma espada de dois gumes.
Tem tantos aspetos positivos como talvez negativos.
Durante anos ouviram-se tantas críticas a esses meios de comunicação: dependência; viciava adultos e crianças; éramos vigiados à distância; criava o afastamento entre as pessoas; geradores de amizades perigosas, etc.

Neste ano que decorre de 2020, em que o mundo conheceu a pandemia do Covid 19, teria sido tremendamente pior se não tivéssemos a evolução tecnológica que temos atualmente.
Eu não duvido disso!
Sem essa tecnologia, teria sido muito complicado chegar às pessoas como se chegou.
Foi possível a entreajuda, o auxilio social e económico de forma muito eficiente.
A informação intensiva, a sensibilização e a disciplina social que ajudaram na preservação das pessoas, foi muito facilitada por conta desses meios de comunicação.
Colmatou-se de diversas formas o isolamento a que as pessoas tiveram de se confinar.
A manutenção de tarefas profissionais através de teletrabalho também foi uma mais valia, em todo o processo, com vantagens diretas na economia do país.
Nada acontece por acaso e o que parece ser apenas desenvolvimento tecnológico, curiosamente, está devidamente operacional na altura em que o mundo atravessa a calamidade da pandemia do Covid19, a qual teria resultados mais catastróficos, não fossem esses canais de comunicação.

Há um tempo para tudo e os passos que a ciência vai conquistando, na minha perspetiva são previamente autorizados pelo Alto.
É irónico pensar que muitas pessoas que se escondiam por entre as redes sociais, sentiam agora a necessidade do toque, da presença, do olhar… Criaram-se por isso outras pontes de contato com os familiares e amigos porque o medo e a incerteza falaram mais alto.
São sempre as situações extremas que obrigam a questionar as nossas escolhas e os nossos comportamentos.
As pessoas queriam estar próximas e não podiam!
Não era mais uma questão de opção pessoal, mas antes uma obrigação social.
Muita interação aconteceu por contas das redes sociais.
Desenvolveram-se aptidões nos mais velhos, através da manipulação de tecnologia a que até agora não tinham dado muita importância.
A gestão de toda a pandemia por parte dos órgãos de estado foi muito mais eficaz, com o uso generalizado destas ferramentas de trabalho, permitindo que as pessoas recebessem a informação atualizada em tempo recorde.
Não há como questionar essa realidade neste contexto e em muitos outros que são já o dia a dia de milhares de pessoas pelo mundo fora.

Mas, como quase todas as coisas, as redes sociais têm dois lados, o positivo e o negativo.
Como não há inovações perfeitas, por entre a utilidade das redes sociais, encontramos muita inutilidade, para não dizer futilidade.
E inúmeras vezes é difícil apurar o que é genuíno do que é fabricado.
É assim que cada vez mais, demasiadas personagens ilustres ou anónimas se servem desses canais para passar a ideia de uma espiritualidade emergente.
Para além de vidas, profissões e corpos perfeitos, a que já nos habituaram, temos, mais recentemente os altamente espiritualizados.
Ficamos sem saber o que é verdade e o que é mentira, pois não é difícil adaptar mensagens bonitas, frases profundas, tal a quantidade que circula na internet, para ilustrar um conhecimento que, na grande maioria, só acontece na horizontalidade porque quando esmiuçado percebe-se que as pessoas realmente não professam nem praticam aquilo de que falam nas redes sociais, ou em conversas de amigos.
Fica difícil no emaranhado de ideias arrebanhadas de qualquer maneira e que se estampam nas redes como bandeiras de vida, saber o que é e o que não é.
Quase acreditamos que o mundo está melhor, que voltamos ao tempo de “love and peace”.
Quase acreditamos que as pessoas realmente estão a fazer um esforço para se elevarem espiritualmente.
Não sendo tão cética assim, acredito que há efetivamente cada vez mais pessoas que se analisam, que se constroem por dentro de forma cada vez mais consistente.
Mas essas, não me parecem tão interessadas em alardear o seu aprimoramento através desses canais, e não fazem muita questão nesse fogo de artificio que é a moda de ser espiritual atual.
Entre os que verdadeiramente estão a caminho e aqueles que apenas usam o conceito como demonstração de uma pseudo evolução vai uma distância de quilómetros.

Capítulo XI

»» “Os infortúnios ocultos”

Porque se adequa ao momento em que passamos pela pandemia do Covid 19, com todos os exemplos observados de solidariedade e entreajuda social, não resisto a partilhar esta narrativa que integra o livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:

Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres.
Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem.
Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.
“Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida?
Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente.
Aonde vai ela?
Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças.
À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos.
É que ela vai acalmar ali todas as dores.
Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar.
O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família.
Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta.
Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite.
Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranquilizá-lo sobre a sorte da família.
No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita.
Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens.
Terminado o seu giro, diz de si para consigo: comecei bem o meu dia.
Qual o seu nome?
Onde mora?
Ninguém o sabe!
Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação.
À noite, um concerto de bênçãos se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.

Por que tão singelo traje?
Para não insultar a miséria com o seu luxo.
Por que se faz acompanhar da filha?
Para que aprenda como se deve praticar a beneficência.
A mocinha também quer fazer a caridade.
A mãe, porém, lhe diz: “Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu?
Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será teu mérito?
Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? Não é justo.
Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los.
Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa.
Não te parece bastante isso?
Nada mais simples.
Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas.
Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti.”
É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou.
É espírita ela?
Que importa!
Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige.
Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência.
Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos.
Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora.
-Silêncio! Ordena-lhe a senhora.
Não o digas a ninguém.
Falava assim Jesus.”

Capítulo XII

»» Desapego
Estranho desapego experimento
Estranha é a calma que me invade
Serena sensatez sem fundamento
da paz que vem agora, quando é tarde.

Como criança em loja de brinquedos, assim somos nós, fascinados pelas coisas de que podemos usufruir e a certa altura carregamos uma mochila demasiado pesada por tanta tralha acumulada.
A necessidade de sobrevivência, o conforto, a segurança, empurram o ser racional a colecionar bens materiais para assim se sentir protegido de fatores externos, ao ponto de o seu ideal de vida passar a ser o de atingir uma quantidade de bens para não precisar de trabalhar.
Noção errada, porque nada dá mais trabalho e mais preocupação do que ter demasiados bens materiais.
A constante incoerência do ser humano leva-o a enganos permanentes, a ilusões que se vêm a revelar muitas vezes e tarde demais grandes desenganos.

Não se pode amar a Deus a Mamom e Mamom é o amor incondicional pelos bens materiais de que usufruímos enquanto habitamos o planeta, mas que invariavelmente deixamos, causando demasiado sofrimento na hora do desligamento.
A evolução do ser humano no plano terrestre passa por muitas etapas que lhe vão moldando a personalidade.
De criança a adulto, de adulto a idoso, é um caminho com muitas interações, muitos cruzamentos com os outros e com ele mesmo.
Desses cruzamentos ficam marcas, sentimentos, que podem ser luxo ou lixo. Luxo quando tiramos o melhor de nós e dos outros.
Lixo quando tiramos apenas, o que nos satisfaz à superfície.
O apego às coisas, ás pessoas, aos sentimentos pessoais é das maiores prisões que se podem experimentar no mundo real.
As pessoas sofrem pelos bens que perdem ou tem medo de perder.
As pessoas sofrem pelos filhos e pelos amigos que partem e por qualquer razão deixam de fazer parte das suas vidas.
As pessoas sofrem prisioneiras de sentimentos de que não se conseguem libertar como feridas cravadas na pele.
Trabalhar o desapego é trabalhar o nosso eu mais profundo.
Adoramos a nossa casa, o nosso carro, o nosso dinheiro.
Adoramos os nossos filhos, a nossa família, os nossos amigos...
Adoramos como se adora um qualquer deus.
Não saímos do tempo em que se faziam sacrifícios aos deuses como necessidade de obtenção de graças por coisas que apenas são nossas temporariamente.
Temos medo de perder os outros, ou temos medo que eles nos percam!
Se isso acontece, talvez não tenhamos feito um bom trabalho em nós mesmos: talvez de tão focados em coisas externas esquecemo-nos de crescer, ficamos banais, esquecíveis.

Vigiar o apego é vigiar e corrigir o nosso egoísmo, a nossa usura, a nossa possessividade.
Tudo que está na nossa vida deve estar para ser usufruído, moderadamente como um elixir precioso que bebemos para promover o nosso crescimento pessoal e a nossa consciência coletiva.
Promover o desapego é crescer em direção ao alto, com a leveza de quem se libertou dos empecilhos do caminho e pode agora subir a montanha da sabedoria.
Os bens ficarão quando partirmos para outro plano.
Os afetos, a família e amigos não são nossos: fizeram parte de nós!
Como um rio, onde as águas nos banham e seguem e outras águas vem e nos banham de novo.
Assim somos, permanentes na mudança; assimilando, desapegando… assimilando e desapegando…
Tudo e todos podem passar pelo nosso coração com amor, mas um amor que liberte, não sufoque, não possua, porque cada coisa e cada criatura só é de si mesma.
Desapegar é por isso muito difícil, toda uma ciência de coragem.
Tomada a consciência da nossa possessão, é um caminho que nos leva mais além na nossa evolução como seres espiritualizados.
Somos matéria, amamos o nosso corpo!
Há quem se adule, quem se venere porque se acha ícone de beleza, referência para outros com os mesmos valores.
Devemos amar o nosso corpo sim, cuidar dele, preservar para que a doença não entre, que não seja motivo de escândalo.
Mas também lembrar que ele é apenas a roupagem que veste o que somos verdadeiramente: um espírito e esse sim é que nos deve preocupar para que seja belo, porque é eterno e irá connosco para todo o lado, enquanto o corpo ficará na terra a desfazer-se em pó.

Observa-se em muitas pessoas o quanto é doloroso, na hora da morte o desapego do corpo e das coisas materiais.
A frustração e a raiva por perder o poder sobre as “suas coisas”.
São momentos de muita dureza para quem só conheceu termos como: “meu, tenho, sou”.
Quando percebem que já não tem, nem são, o coração enegrece e sem tempo para mudar saem do plano terreno cheios de amargura e desilusão, quando são eles os únicos culpados.
O desapego é todo um aprendizado que vai do homem ao anjo.
Desapegamos das coisas, dos outros, dos nossos sentimentos e num estado já muito evoluído, nem a identidade que tivermos na terra é relevante.
Não interessa quem fomos ou somos, importantes ou não.
Apenas o grau de aprimoramento que o nosso Eu atingiu, enquanto habitamos um corpo ou vários, conta no final.
Difícil perceber essa grandeza de alma porque o nosso estágio evolutivo ainda dá os primeiros passos no reino animal, “após ter passado pelo reino mineral e depois pelo vegetal”.
Teoria polémica esta, contestada pela ciência e renegada pela religião, mas entre o que uma quer descobrir e a outra quer encobrir, ambas estão ainda muito longe da verdade que só pertence a Deus, e que só chegará aos homens no tempo certo.
Entre os cientistas que procuraram derrubar barreiras de entendimento sobre quem somos e de onde viemos, Charles Robert Darwin (1809-1882), naturalista inglês, chegou mais longe alegando que o aparecimento do homem foi a culminância de um processo evolutivo que começou em organismos simples, envolvendo o reino vegetal e animal, até atingir a complexidade necessária para que um ser começasse a ensaiar a razão, conquistando a capacidade de dirigir o próprio destino.

Esta coragem sai cara a todos que, aliando capacidade intelectual e intuição espiritual, desafiam o poder e o conhecimento instituído.
Nas primeiras reações, para além de ter que enfrentar o poder da religião, Darwin passou por herege e perturbado mentalmente.
Entretanto Darwin nunca pretendeu destruir a ideia de Deus, apenas demonstrar que o Criador trabalha de forma diferente do que a nossa vaidade quer acreditar.
Há um tempo para o ser humano aceder ao conhecimento, o tempo certo, o tempo de Deus e hoje a teoria da evolução das espécies é já um paradigma científico.
De destacar ainda que a igreja católica, que tanto combateu a Teoria da Evolução, agora reconhece sua autenticidade, situando a gênese bíblica como uma alegoria que não deve ser tomada ao pé da letra.
Somos seres criados por Deus, colocados nesta escola terrena, cada qual com as suas necessidades de evolução.
Muitos, chegam e partem sem perceber o que vieram cá fazer. Outros vêm a passeio e nada mais fazem que usufruir do que podem, sem assunção de quaisquer responsabilidades.
Alguns vêm para ser adorados como se achando mandatados por Deus.
Poucos, infelizmente poucos ainda, já têm alguma intuição do que o Criador quer da sua criatura.
Aprender o amor, a fraternidade, a solidariedade, são esses os valores.
Essa é a lei da evolução!
É esse aprendizado, o nosso verdadeiro tesouro.
Esse também o tesouro que deixamos para os que ficam e que nos amaram: o nosso exemplo e a nossa mensagem.
Tudo o que de material possuímos será desapropriado e entregue àqueles que se não tiverem elevação, iniciarão o mesmo ciclo de apego e de mágoa no final.
Do plano terreno levamos o nosso espirito, com os registos do que fizemos em prol dos outros e da nossa consciência moral.
Nada na Lei de Deus diz que é errado realizar grandes feitos: errado é não os colocar ao serviço dos demais.
Trabalhar para ter conforto, qualidade de vida, também não é errado: errada é a fascinação que pode exercer sobre nós todo esse status.
Quem nasceu com qualidades para exercer o poder, deve nortear-se pela justiça e equidade, protegendo sempre os mais desfavorecidos.
Aqueles que nascem com atributos intelectuais tem a obrigação moral de os colocar ao serviço da comunidade, para que possam ser partilhados.
Desapegar-se das próprias conquistas intelectuais é aprender a humildade e muitos, fruto do orgulho, achando ser apenas seus os méritos das conquistas cortam o elo da intuição, verdadeiro caminho, para chegar sempre mais além.
Quem se faz vaidoso do seu valor intelectual passa a viver a horizontalidade dos conhecimentos do mundo, deixando de fora a Ciência Divina, que só é revelada aos realmente humildes, que já aprenderam que o homem sem Deus nada sabe e nada é.
São tantos os homens e mulheres que partilharam com humildade os seus conhecimentos.
Outros gratos pelos desempenhos económicos conquistados, souberam alargar horizontes criando postos de trabalho e condições dignas para dar oportunidades ao seu semelhante.
Infelizmente muitos se deixam ofuscar pelo brilho da ribalta e confundem as coisas a partir de certa altura, onde já não distinguem o que é legitimamente seu, ou apenas usufruto.
No final comum a todos, haveremos de prestar contas a Deus dos recursos que d’Ele recebemos, como na Parábola dos Talentos.
Jesus o Mestre dos Mestres permanece como a fonte de todos os exemplos de desapego e de diretrizes para a verdadeira vida, quando nos deixou dito:

    “Eu não tenho uma pedra onde assentar a cabeça”

Capítulo XIII

»» Não basta parecer…

Cada vez mais o mundo vive sufocado por ideias instantâneas, atiradas sobre os seres que não tem vontade de pensar por si mesmos e nem querem a responsabilidade de escolher.
Nesta sociedade tão frágil de valores, cada um preocupa-se em mostrar aquilo que não é, por conta da ilusão de que o seu valor é a sua aparência.
Não é fácil a coragem de fazer diferente, nem fácil desafiar toda uma cultura de parecer e não ser.
E quando paramos para analisar em que estado evolutivo nos encontramos, já estamos quase a ser engolidos pela selva da aparência, fascinante e facilitadora.
Travamos a fundo quantas vezes, com a vontade e a dúvida de nos deixarmos ir aproveitando aquilo que parece ser mais sedutor do que o permanente questionamento de valores espirituais que queremos manter.

Daí, precisarmos, muitas vezes, de um culpado para tudo o que de mal acontece nas nossas vidas e que facilmente encontramos na variedade de coisas e situações que se nos oferecem no dia a dia, a que apenas precisamos estender a mão.
E nessa cobardia, nessa não assunção de responsabilidades de que padecemos, escondemo-nos atrás das nossas não decisões, culpando a sociedade, porque achamos não ter oportunidades à medida da nossa ambição.
Achamo-nos merecedores de tudo, mesmo sem contribuir para nada. Invejamos dos que se esforçam, aquilo que conseguem, fruto do seu trabalho.
A ganância e a luxúria estão de tal maneira disseminadas, que se mata para roubar dos outros o que foi conquistado honestamente, por conta da ambição e da pouca vontade de trabalhar para atingir objetivos, mesmo os mais insignificantes.
Muitos mostram-se em sociedade com estatuto e dinheiro que legitimamente não granjearam, agasalhados em grupos com o mesmo poder e valores, para assim se fortalecerem coletivamente.
Ser diferente num mundo assim não é fácil!
É preciso haver clareza de espirito, para não permitir a colonização da nossa vontade através do brilho das luzes que insistentemente nos querem ofuscar.

Homens e mulheres estão demasiado preocupados em competir pelas vidas mais glamorosas, a qualquer custo, sem olhar ao que comprometem do seu futuro que deveria ser de desenvolvimento e ascensão.
Misturam-se classes de diferentes níveis económicos, cujos valores são similares, na vontade de ter e parecer, esfumando-se as fronteiras sobre quem é verdadeiramente o quê.
E mesmo em estratos mais humildes, muitos sentem-se no direito de ombrear com os mais abonados financeiramente, influenciados por valores que se baseiam essencialmente em aparentar o que não se é, para daí retirar dividendos sociais. Fazem grandes sacrifícios para ter acesso a tudo que pode camuflar a aparência de quem nasceu pobre, mas pretende passar por rico.
Forma de estar de grande parte da sociedade atual que não vislumbra nada mais do que tentar de tudo, para chegar a tudo o que de material os satisfaça.
Somos uma voz ou um eco?
Temos vontade própria, valores definidos, ou apenas nos conduzimos pela imitação dos outros?
Nesse limiar entre o certo e o errado, movimentam-se muitos seres humanos que não tem definida a sua identidade de ser e vivem na sua identidade de parecer.
Fantasiados do que não são, pela roupagem com que se vestem, acabam a ser aceites num mundo indecifrável entre quem é e quem parece.
Esta mistura só resulta porque os valores de uns são os valores dos outros e se baseia na fraude de parecer e não ser.
Mesmo assim, muitos ficam em cima do muro, não sendo de um lado nem do outro, à espera da oportunidade de ocupar um espaço que não lhes pertence, mas que lhe é permitido porque a moral de uns é a mesma moral dos outros.
Será que o glamour e o sucesso valem tudo isso?
Quantas vezes essa frágil aparência se constrói em cima de muito sofrimento.
Muitos fazem esse caminho por uma vida inteira e quando observam a realidade atingida, quanta decepção e quanta mágoa vão descobrir.
Nós temos em nós, todo um mundo de ideias, valores, capacidades de pensar e agir autonomamente, não precisando subordinar-nos ao pensar dos outros, ou adotando deles as nossas escolhas.
Não somos pedras, nem plantas.
Já fizemos um longo caminho que nos trouxe até onde estamos agora.
Somos a ideia associada à nossa ideia de ser antes de o sermos.
O ideal humano é… ser humano, através dos valores da virtude e sabedoria.

“Pelas vossas obras, vos conhecerei.”, Bíblia

Não cedamos, pois, à corrupção espiritual que sempre nos persegue.

Capítulo XIV


Prostituir a essência

Respeita a tua essência, sonha os teus sonhos
e partilha com quem amas as tuas descobertas

[Gênesis 1.26-31] Então disse Deus: - Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou e lhes disse: - Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra!

Sendo o corpo pertença de cada um, cada um faz dele o que bem entende.
Não esquecer, porém que o que se faz ao corpo faz-se à mente, à alma, ao espírito, no fundo à nossa essência que é aquilo que somos, independentemente da designação escolhida.
Quando aviltamos o corpo, aviltamos sem dúvida a essência que nos coloca acima dos animais irracionais.
Vive-se num tempo em que se quer experienciar exaustivamente os prazeres sensoriais, usando para tal tudo o que possa potenciar os sentidos.
Já quase não se pondera a diversão sem a presença do álcool, da droga, do tabaco, de medicamentos e cedo ou tarde esses maus tratos ao corpo virão como danos maiores à mente.
Pese embora, a progressão do ser humano que já se aprimorou relativamente ao tempo em que matava para sobreviver, ainda está bem longe daquilo que seria razoável nos tempos atuais.
Avilta-se o corpo de variadas formas: na entrega por compensação económica; quando consome substâncias que potenciam sensações, inibições, alienações.
Maltrata, fragiliza quando não respeita as necessidades de descanso, de higiene; quando por questões estéticas vai a sacrifícios desumanos, alimentação deficiente, uso de substâncias químicas para atingir a suposta perfeição.
Duvido que não haja um rasgo de consciência a alertar para as consequências futuras, quando nos maltratamos voluntariamente e tenho a certeza de que todos os excessos irão aparecer mais tarde sobre a forma de transtornos emocionais e ou mentais.
Com todas as reticências do meu pensamento, acredito que somos um espirito que ocupa um corpo de forma temporária.
Quando esse espirito atinge a compreensão da sua essência imaterial e que a passagem pela terra é uma oportunidade de evolução moral, o nosso sentido de responsabilidade aumenta nos cuidados com o corpo e por inerência a alma.
Pese embora, essa matéria de que somos feitos, nos proporcionar, o poder sobre as coisas, a seu tempo se transformará em pó da terra.
Ao contrário, a alma permanecerá com todas as memórias boas ou más com que nos auto infligimos.
Se nisso houver dúvidas, basta que se observem as civilizações passadas, de que restaram no máximo, alguns poucos vestígios.
Os sinais civilizacionais foram-se desgastando pelo tempo, independentemente da grandeza material.
Até a mensagem, fundamento da sua criação é interpretada conforme os interesse e oscilações humanas.
Tudo é efémero e passageiro, menos o espírito que prevalece, na eterna caminhada da evolução.
Porque o corpo é a casa onde vivemos enquanto pessoas, maltratar essa casa é prostituir quem somos.
E nós somos, a soma de todos os sentidos, que entram na equação do nosso bem-estar e da nossa sanidade mental.
Respeitar o nosso corpo é respeitar a nossa essência e essa é a parte mais importante de nós.

Capítulo XV

»» Intuindo mais além…

O ser humano chega ao mundo incompleto e imperfeito, para uma etapa reencarnatória.
Até cerca dos sete anos, a criança ainda se encontra muito ligada ao mundo espiritual, sendo frequente episódios em que é referida a presença do amigo imaginário, ou a ligação afetiva a lugares e pessoas que, supostamente, terão feito parte da vida da criança anteriormente.
Nem a criança, menos ainda as famílias atuais conseguem explicação racional para estas memórias.
Estudiosos defendem a teoria, não comprovada cientificamente, mas abordada em alguns estudos sérios, de que nos primeiros anos a criança tem ainda muito presente, memórias do mundo espiritual, de uma permanência denominada “entre vidas”, bem como de espíritos que a acompanham e transitam com ela, para ajudar na sua adaptação à nova vida terrena.
Segundo a teoria reencarnacionista o homem virá ao planeta vestindo um corpo físico tantas vezes quanto as necessárias para o seu aprimoramento.

Ao abandonar o corpo físico habitará um outro plano onde se refaz e prepara uma outra etapa de evolução no mundo físico.
Por essa razão, pode dizer-se que a criança está com um pé no mundo material e outro no mundo espiritual.

Brian Weiss, psiquiatra e escritor norte-americano, descreve o conceito, no seu livro "A Divina Sabedoria dos Mestres":

“Atravessamos muitas fases quando aqui estamos. Deixamos um corpo de bebé e passamos para um corpo de criança; de criança passamos para adultos e de adultos vamos para a terceira idade. Por que razão não iremos um passo mais além e não deixamos o corpo adulto para entrarmos num plano espiritual? Isso é o que nós fazemos. Não paramos de crescer; continuamos a crescer. E quando entramos no plano espiritual, também aí continuamos a crescer. Atravessamos diversas fases de desenvolvimento. Quando aí chegamos, estamos completamente estoirados. Precisamos de passar por uma fase de renovação, um período de aprendizagem e por uma fase de decisão. Decidimos quando queremos regressar, onde e por que motivos. Há quem escolha não voltar. Essas pessoas escolhem passar para uma outra fase de desenvolvimento e permanecem na forma espiritual… uns, mais tempo que os outros, até voltarem de novo. Todo esse processo é crescimento e aprendizagem… crescimento contínuo. O nosso corpo funciona meramente como um veículo para nós, enquanto cá estamos. A nossa alma, o nosso espirito é que duram para sempre”.

Este autor tem uma obra extensa sobre esta temática, sustentada pela sua experiência psiquiatrica de muitos anos, onde se deparou com comportamentos emocionais desajustados de alguns doentes que acompanhou e para os quais a medicina tradicional ainda não tinha respostas
Muitos casos de supostas reencarnações foram também estudados por Ian Stevenson, professor de psiquiatria, do Canadá, que dedicou grande parte da sua vida a entrevistar crianças e suas famílias, onde estas alegavam vivências de vidas anteriores noutro tempo, lugar e com outras famílias.
Os pormenores eram de tal maneira precisos, que muitas situações foram investigadas e comprovados muitos detalhes descritos pelas crianças.
Há registos de mais de 3000 casos, grande parte na Índia, tendo Stevenson deixado um trabalho muito sério sobre este assunto à comunidade cientifica e académica, o qual se desenvolveu em várias geografias: África, Alasca, Colúmbia Britânica, Birmânia, Índia, América do Sul, Líbano, Turquia entre outras.
Em muitas das situações analisadas parece perceber-se, nessas lembranças, um ponto comum nas descrições das crianças: uma morte anterior traumática.
Quando analisados esses relatos, parece entendível que o espirito precisa voltar para o resgate de uma vida que foi abruptamente terminada.
Dessa forma, volta para curar a ferida da morte prematura revendo o lugar e quem fez parte dessa vida.
Vem para poder perdoar, perdoar-se e ficar sarado e de bem com esse passado.
No fundo, é o que a psicanalise tenta fazer com os traumas pessoais – trazê-los à “tona” para serem curados.
Independentemente de acreditar no conceito, quantos de nós vivenciamos já situações que nos colocam perante realidades que não sabemos explicar, mas que nos levam a crer que algo muito superior à nossa pequenez existe para além da cortina do nosso entendimento.
A mediunidade, premonição, sonambulismo, perceção extrassensorial, experiências de quase morte, episódios de epilepsia, esquizofrenia e tantas outras nuances da mente, são apelidadas, quando não há um diagnóstico preciso, com demasiada leveza pelos académicos, entre doença mental ou fraude.
A ciência é busca permanente e não tem que ter todas as respostas para as questões do ser humano. Peca muitas vezes pela falta de humildade quando rotula o que desconhece, de forma precipitada, condenando quantas vezes, ao isolamento e ao abandono em si mesmas pessoas que vivem dramas mentais, para os quais ainda não existem definições aceitáveis.
De forma, muitas vezes impiedosa e redutora, cataloga alguns episódios do foro mental, como sendo da competência da psiquiatria, psicologia, psicanalise e por aí vai… considerando o assunto entregue e resolvido, deixa sem perspetivas de futuro muitos seres humanos expostos a tratamentos químicos que os mantém alienados até ao resto dos seus dias.

Espiritualmente somos ainda crianças gatinhando, mas o modo como hoje já entendemos a energia, de como somos influenciados e influenciamos através dela, são indícios de que existe muita coisa para a qual não temos e estamos longe de ter explicações concretas e convincentes.

Pena, que ainda se deem passos tão pequenos na explicação do ser humano, quando comparados com os grandes avanços na exploração fora do planeta…

Capítulo XVI

»» Carma de solidão

Caminhas pela vida, sozinho, carente, doente, num desespero que não sabes como ultrapassar.
Consegues disfarçar a dor com o sorriso que ofereces a quem te pergunta como vais.
Constatas dolorosamente, que ninguém te ama, nem por ti têm afeto e cais numa melancolia e pensamentos tenebrosos.
Tu também sonhaste com um lar feliz, uma família amorosa e filhos ditosos, mas vês-te agora só e embrulhado numa tristeza de que pareces não saber a causa.
Quantas vezes, pensas acabar com a própria vida, julgando erradamente que todo o sofrimento terminará então.
Se tu soubesses o que espera aqueles que fogem por essa porta, jamais aceitarias que esses pensamentos te dominassem.
Sofres com tudo isso e achas que nada mais vale a pena.
Porque só te vês a ti!
Ignoras o que se passa com aqueles com quem te cruzas, que aos teus olhos são felizes e tem sucesso, porque sabem esconder melhor que tu o que os aflige, através duma aparência sorridente.
Também eles sofrem, tem necessidades, diferentes das tuas por certo, mas não menos aflitivas.
Se pudesses conhecer outras realidades perceberias, como esses invejam os teus problemas que comparativamente são menores, acredita!
A vida na terra não é fácil para ninguém.
Todos viemos para ultrapassar a nossa imaturidade espiritual, por isso estamos neste planeta de provas e experiências necessárias à nossa educação.
Não esmoreças, porque esse é o teu carma de solidão.
Faz uma avaliação entre todas as coisas que te tocaram em sorte e muda a tua atitude mental.
Só dessa forma e pelo que possas fazer pelo teu semelhante, despertará em ti a esperança de que estás carente.
Pela Lei de Deus o que te falta agora, porventura já terás desprezado.
O amor duma família, talvez não tenha sido cuidado por ti devidamente, perdendo por isso o amparo que desejarias agora.
O amor não é um direito, nem se ama por obrigação!
Amar é cuidar e por certo não o cuidaste quando o amor passou por ti.
Esse sofrimento que transportas agora é o reconhecimento das tuas falhas passadas, de que a tua consciência espiritual tem registos.
Essa assunção inconsciente de culpa obriga a que te escondas na tristeza e na solidão, pensando que assim expias os erros passados.
E provavelmente, aqueles a quem magoas-te ainda recordam o sofrimento causado por ti e em pensamento chegam a ti e te afligem.
Reage sem apegos, sem dolorosos ressentimentos, trabalha a favor do bem e do semelhante e verás as melhorias que o teu ânimo experimenta.
Ama sem mágoas e sem cobranças e serve sem esperar nada em troca.
O que começares a fazer agora, estarás a fazê-lo por ti indubitavelmente e te libertará quase sem o perceberes das culpas que acumulaste.
Tantas são as formas de mudares a rota do teu destino!
Pensa nos que te rodeiam e solidariamente estende a mão aqueles que pressintas em sofrimento.
Mesmo que pequenos sejam os teus gestos, poderão ser a diferença na vida de muitas pessoas, que como tu se isolam na dor, até serem consumidas por ela.
Trabalha a tua fé porque que o mundo ainda tem coisas boas para te dar, muitas vezes através do teu semelhante, a quem até agora não prestaste muita atenção.
Também tu és filho amado de Deus, embora por vezes duvides da Sua existência.
Confia apenas que ninguém está sozinho e quando te deres aos outros com amor desinteressado, perceberás como floresce em ti esse amor de Deus que apenas está adormecido...
Capítulo XVII

»» Solidariedade de cura

Quando nos deixamos apanhar pela solidão, quando a doença se nos apresenta, o melhor antídoto, sem dúvida alguma, é pensar no outro.
Naquele que vive uma solidão maior e uma doença pior que a nossa.
Certo é, que o desânimo que nos acompanha nessas horas, nos tira a lucidez e a coragem, pelo que o sentimento é de pena de nós mesmos e nenhuma preocupação com os outros.
A constatação, para quem já passou por isso, é que se efetivamente nos conseguirmos desligar um pouco do nosso drama, da autopiedade e olharmos o outro que está numa situação desamparada, provavelmente conseguimos esquecer um pouco a nossa dor, deixando a natureza mais liberta para curar o nosso sofrimento.
Fazer bem aos outros, é fazer bem em primeiro lugar a nós mesmos.
Quando nos envolvemos nos problemas dos que nos rodeiam, com intuito solidário e nos esquecemos da lamentação, impedimos a nossa mente negativa de interferir nos nossos processos de cura.
A tristeza, a doença são provas que todos nós, uma vez ou outra deveremos experimentar.
Convém, porém, fazer o esforço de não nos deixarmos dominar pela morbidez e acreditar que ambas podem ser vencidas, assim nós nos saibamos ajudar.
Não existe uma fatalidade para o mal, quando nos chega na forma de desilusão ou enfermidade, mas existem consequências para os nossos atos, que a nossa espiritualidade insuficiente ainda não permite entender.
O que acontece ao ser humano, é sempre resultante do que ele fez de si mesmo e nunca por culpa de terceiros.
Por isso, sempre que tenhas oportunidade experimenta a solidariedade para com o semelhante.
Sem fantasias, com genuína dedicação, faz o bem imaginando que o fazes, como gostarias que o fizessem a ti um dia, em que te vejas necessitado.
Quando te libertas do pessimismo, quando expulsas a tristeza do teu coração, estás a dizer ao Universo que comungas da convicção de que o ser humano veio ao planeta Terra para ser feliz e saudável.
Por isso, faz o esforço de erradicar da tua vida a doença e a tristeza, conquistando, pelas tuas obras a saúde e a alegria.
Não temos todas as cartas do jogo da vida e ninguém sabe qual vai ser o resultado final.
Como um puzzle a que falta a última peça.
Podemos sempre intuir como será o elemento em falta, que nos mostraria toda a imagem, toda a plenitude, mas também aceitar que se não temos acesso ao puzzle completo é porque a nossa compreensão ainda não está treinada para entender a grande mensagem do Criador.
Aceitemos a nossa pequenez com humildade.
Só essa atitude predispõe a querer evoluir e aos poucos conhecer um pouco mais do milagre da criação.
Somos pequenas gotas neste oceano de almas, mas pequenos que somos, temos todas as condições de fazer o bem e evoluirmos com isso.
Reflete, pois, sobre a tua vida, vê onde precisas melhorar e alinha os teus passos na generosidade solidária.
Não faltará o trabalho que te ajudará a esquecer velhos problemas e a melhorar a tua saúde integral.
Verás, quase sem te aperceberes, como chegam a ti dias melhores e caminhos desimpedidos.
Trazemos em nós a capacidade de distinguir entre o bem e o mal e de escolher sempre o primeiro para o equilíbrio harmonioso das nossas imperfeições.
Desenvolvamos, pois os recursos adormecidos da presença de Deus em nós, para alcançarmos outros patamares de evolução.
Quando a razão e o amor pelo próximo nos permitirem escolher entre a lamentação pessoal e a ajuda efetiva do semelhante, perceberemos o bem-estar gerado, traduzido num sentimento de gratidão e de recolha de bênçãos que não esperávamos.
Outros horizontes se abrem à nossa compreensão e a vida ganha novo sentido.
Envergonha a nossa cobardia, alguém que ao nosso lado sofre com resignação por males maiores que o nosso.
Mas, quantas vezes são esses os nossos melhores mestres, quando encaram a iminência da doença ou da morte com a coragem e elevação, muito acima do que é suposto o ser humano aceitar.
Trabalhemos, pois, a nossa lucidez espiritual, espelhando os valores divinos, para que floresça em nós a coragem que necessitamos para ultrapassar as agruras de que a vida está cheia e que só serão vencidas com o amparo dos bons sentimentos e do amor do Pai.
Só pela solidariedade com o semelhante aumentaremos em nós a capacidade de amar e de sermos felizes.

Capítulo XVIII

»» Terapia da gratidão

Entre os sentimentos nobres, a gratidão é dos mais relevantes.
A natureza, em si mesma e sem a intervenção do homem, é um hino de louvor e de gratidão permanente.
Essa vibração harmoniosa, não é adequadamente entendida nem valorizada pelo homem, com a sobranceria que o caracteriza e que dessa forma não tira partido das vantagens de que poderia beneficiar a sua saúde integral.
Quando o crescimento emocional se dá, o espírito se eleva e acede a uma clarividência que o afasta das sombras que permanentemente o seguem pela terra.
É uma subida à montanha que lhe permite ver mais alto e mais longe e quais os verdadeiros valores a reter.
Percebe a importância da sua identidade enquanto pertença do Cosmos e o seu ego diminui na mesma proporção em que cresce a certeza de aproximação à verdade.
Descobre, o privilégio, a oportunidade e a gratidão por tudo o que é e que lhe foi entregue no ato do seu nascimento.
Nessa progressão emocional/espiritual vai-se dando conta que viver é experienciar gratidão por tudo quanto lhe sucede e tem oportunidade de vivenciar.
É essa gratidão gerenciadora do desenlaçar de velhos receios e bloqueios que não deixam a vida fluir harmoniosamente e advém de uma maturidade baseada na razão e na certeza que somos seres privilegiados e amados por Deus.
Quando imaturos, acreditamos que gratidão é apenas um obrigado pelo que nos é dado, ou qualquer favor obtido.
Daí a importância do recolhimento necessário à nossa emancipação emocional.
Uma espécie de reconhecimento pelo bem que recebemos.
Gratidão não é tão simples assim e só através da reflexão percebemos a verdadeira extensão deste sentimento, verdadeiro antídoto contra as doenças do egoísmo que nos rodeiam.
É um sentimento profundo e significativo, porque não se limita ao ato da recompensa habitual.
É mais grandioso, porque traz satisfação e tem caráter terapêutico.
Todo aquele que é grato, que compreende o significado da gratidão, goza de saúde física, emocional e psíquica, porque sente alegria de viver, compartilha de todas as coisas, é membro atuante na organização social, é criativo e jubiloso.
Mas como todo o bem-estar causa inveja no ser humano comum, há uma insistência em transformar a harmonia que uns conquistam, como sintoma de falta de objetivos e ambições, o que nas sociedades atuais é dos maiores defeitos, tal a competição que se instalou para que se chegue mais além em poder social e económico:

“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5:18).

Como é percetível, não temos que dar graças pelas tragédias e pelos sofrimentos que nos atingem, mas continuemos a ser gratos no meio deles.
A gratidão é por isso uma bênção de valor imensurável.
Não desperdicemos as oportunidades de sermos gratos. Só o poderemos fazer enquanto vivos.

“Porque recebem os mortos mais flores que os vivos? Porque o remorso é mais forte que a gratidão?” escreveu Anne Frank no seu diário.

Com a terapia da gratidão poderemos vencer entre outras coisas o remorso.
A fórmula terapêutica dos simples de coração.
Quando o espírito entende a sua imortalidade, nessa consciência e com esse discernimento, vai ser grato pela oportunidade de fazer parte do Todo e uno com todos.
A gratidão agiganta o ser racional, porque desenvolve o seu Eu nos estados de graça e alegria.
A gratidão não se dececiona, porque não espera reconhecimento.
É feliz e tem sempre algo para dar aos outros em forma de esperança e de amor.
A busca da autorrealização é iniciada a partir do momento em que a gratidão exerce o seu predomínio no Eu, sem sombra perturbadora, constituindo-se numa sublime bênção de Deus.

Capítulo XIX

»» O que realmente importa

No ciclo sem fim de vidas que vêm e voltam, o ser humano ainda não entendeu o que é realmente importante preservar.
Por isso continuam hoje os mesmos erros de ontem.
O endeusamento do corpo, a imagem que vê refletida no espelho da ilusão é mais forte que qualquer lampejo de lucidez da consciência.
E insiste e persiste na luxúria, numa vaidade imensurável, enganando-se no mais íntimo de si.
E percebe o erro vezes sem conta… e continua na vã crença de que não há mais nada depois disto, ao mesmo tempo que intui a permanência, a beleza, a perfeição...
Mil anos, dois mil e o que mudou?
A mesma fraca vontade de fazer melhor, de ser melhor.
Tão fraco mestre constrói em si!
A vida não dura mais que um instante e como seres imortais, terminada esta etapa, ascenderemos a um mundo invisível e imaterial, enquanto o nosso corpo se decompõe e volta à matéria.
A alma que prevalece, chora pelo tempo perdido, rogando por mais uma oportunidade, que lhe será dada por um Deus magnânimo e no tempo certo.
Um Pai que não pede muito, apenas o esforço de fazermos melhor, um pouco a cada dia.
Na escala evolutiva dos seres do universo, somos almas maculadas de muitas impurezas, que nos tornam prisioneiros em lugares sombrios na terra e impedem a nossa elevação ao Pai.
Sábios da antiguidade como Sócrates e Platão, intuíam os diferentes graus de desmaterialização da alma, associados à sua menor ou maior pureza.
Conforme o ser humano se liberta das amarras materiais mais leve e fácil é a sua ascensão ao mundo da verdadeira vida.
O materialista, que proclama para depois da morte o nada, vê-se livre de toda responsabilidade moral, sendo isso o seu maior incentivo para o mal.
Na sua crença, tudo lhe é permitido neste plano, porque tudo termina no nada.
Pelo contrário, o homem que viveu para o depois, se despojou dos vícios e se enriqueceu de virtudes, pode esperar com tranquilidade o despertar na outra vida.
E porque se alimentou do bem e do certo, nada teme quando a sua hora chegar.
Da mesma forma que o corpo guarda as marcas boas ou más do que vivenciou, assim a alma, após libertação do corpo tem perfeitamente nítidos os traços do seu caráter, das suas afeições e das marcas que lhe deixaram todos os atos de sua vida.
Se já é constrangedor um corpo nu perante o olhar alheio, imaginemos como será a nossa alma nua perante Deus!
No seu último discurso disse Sócrates aos seus juízes pouco antes da sua morte: “De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem de extinguir-se, a morte será como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Todavia, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem conhecemos!
O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e de distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não o são. No entanto, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para viverdes”.

Segundo Sócrates, os que viveram na Terra se encontram após a morte e se reconhecem. Sócrates intuiu e difundiu os valores cristãos, quinhentos anos antes de Cristo.
Nada que surpreenda, se considerarmos que as grandes verdades são eternas e que os espíritos adiantados devem tê-las conhecido antes de virem à Terra, para onde as trouxeram.

Capítulo XX

»» Do amor

“Há uma alquimia interna no íntimo de cada ser humano que, misteriosamente, mescla sentimentos com impulsos para a vida. O amor participa da alquimia da vida, como o tempero de Deus, para que ela seja degustada” C. G. Jung

Amor, inegável amor, que cobre a multidão dos pecados!
Só ele ampara o mundo na imensidão dos mares de egoísmo, orgulho, soberba que cada vez mais enfermam o planeta.
Só ele impede o fim da civilização: o amor de Deus e o amor que apesar de tudo ainda está no íntimo de cada ser.
Por muito que nos enganemos de que somos independentes de emoções, as quais entendemos como fragilidades, ninguém vive sem amor, porque sem o amor enfraquecemos e morremos.
Nem sempre fortes, nem sempre fracos, sejamos conscientes e se possível gratos pelo poder do amor em nós, pela persistência e permanência com que humildemente está ao serviço do ser humano.
Nem sempre compreendido, muitas vezes deturpado, banalizado, o amor está para ser apreendido, para ser absorvido, para ser amado.
Levianamente o maltratamos ao torná-lo passageiro, extremo, radical.
Quando define as coisas e as pessoas do mesmo modo: amamos, adoramos uma roupa, um restaurante, um amigo; amamos hoje, odiamos amanhã.
Ignorantes, inconsequentes, irresponsáveis os que assim usam a palavra amor.
O carrossel da vida leva-nos rodando por tudo, não assimilando por vezes o que deveríamos. Apanhamos no ar as ideias, tornamo-las nossas, sem atender ao seu significado e à sua coerência, neste mundo ruidoso, fútil e fácil, onde não nos queremos concentrar.
Necessário parar para resgatar o valor das palavras. Necessário sermos responsáveis pelo que sai da nossa boca:

“Pois a boca fala do que está cheio o coração.” Mateus 12:34

Tão poucos são, os que têm o privilégio de reconhecer o verdadeiro amor.
Matemática divina: pois, se dividido se multiplica, se enriquece quando repartido e agiganta-se pela doação.
Foi o amor do Pai que gerou o universo.
É ele, o amor, o elixir da vida, a respiração de que a alma precisa para triunfar sobre as vicissitudes.
Genuíno, altruísta, permanente, o amor pelo amor, reúne as almas, fortalece o todo.
Quando verdadeiro, o amor construído, segue as etapas de desenvolvimento desde o amor infantil ao amor adulto, tranquilo, consciente e bondoso.
Permanece libertador, confiante, indestrutível.
Não se decepciona, porque não possui. Não está no que recebe, mas no que doa, não no que exige, mas no que oferece.
Está em harmonia com os ritmos do Universo, em comunhão com as fontes da Vida.
Espontâneo, irradia-se, contagia e floresce.
Poderoso e radiante!
Reúne as almas, fortalece o todo, incessantemente como um perfume que fica suavemente em cada um que toca.
Não se apega, nem sente falta, apenas confia porque vive no íntimo do ser e nada externo o pode afetar.
Deus, deu-nos o amor na beleza do nascer e do pôr-do-sol.
E com amor fez o dia, a noite, os pássaros do céu e os peixes do mar.
Fez a brisa serena e o vento forte, fez a tempestade.
Deu-nos o tempo e o pensamento.
Do amor são todas as alegrias.
E as tristezas são do amor também!
De todas as armas do mundo a mais poderosa é o amor.
Quando não sincero, o amor se enfraquece, se desvanece. Sobrevive o medo, a frustração e torna-se enfermo, de baixa energia, angústia e incerteza, sobressaltado pelo vazio recorrente.
O amor é o princípio, o meio e o fim!
Tudo é amor e o amor é tudo!


Khalil Gibran, 1883-1931, da sua obra O Profeta sobre o amor:

“No amor, fiquem juntos, mas não tão juntos, pois os pilares do templo ficam bastante afastados e o carvalho e o cipreste não crescem um na sombra do outro.”

“A vida pode ser de fato, escuridão se não houver vontade, mas a vontade é cega se não houver sabedoria, a sabedoria é vã se não houver trabalho e o trabalho é vazio se não houver amor.”

Capítulo XXI

»» O poder do silêncio

Quando a tua alma ficar cansada do ruído do mundo e quiser descansar…
Quando achares já ter cumprido a tua missão e quiseres ir embora…
Quando as tuas pernas e os teus braços estiverem sem forças, pelos muitos anos vividos...
Quando estiveres ciente, ter feito tudo o que deveria ser feito…
Quando já não encontres motivos para ficar…
Num entardecer procura a árvore mais bonita ao teu olhar e num silêncio respeitoso, senta-te à sua sombra.
Fecha os teus olhos fatigados e procura serenar a mente.
Ouve o som do teu coração misturado com a brisa que te acaricia o rosto e sente o perfume que te envolve.
Segue a ondulação do teu respirar, pausadamente, como quem segue os passos do Mestre…
Deixa que o teu espírito vagueie por entre os ramos entrelaçados dessa árvore que te envolve e como pássaro livre beija as folhas perfumadas pelas primeiras gotas de orvalho.
Entre a luz que vai e a noite que se aproxima, percebe a importância de uma e da outra.
Ambas se completam!
Juntas são um dia!
A sombra e a luz, o silêncio e o ruído, a insensatez e a sabedoria… tudo é ensinamento!
Percebe a beleza e a paz que te envolve.
Nada mais existe para além de ti e dessa árvore.
Agora, tu és natureza, silêncio e harmonia!
Agora tu és, mais uma lição apreendida, sem palavras gastas, sem testemunhos defeituosos.
Tu não podes querer ir embora se o teu tempo não se completou ainda…
Tu não podes ir embora, porque o mundo ainda tem muito para te mostrar.
Há sempre algo que não foi dito, coisas que não aprendeste, abraços que não deste…
Se o teu dia hoje foi difícil, amanhã por ventura será melhor. Mas, o difícil de hoje, se o ultrapassaste sem queixumes, porventura fez-te mais forte e ensinou-te algo mais.
O dia de amanhã é dádiva sempre, oportunidade, evolução, progresso…
Quando não achares mais motivos para ficar, procura a tua árvore, respira a sua paz e aprende no silêncio, tudo o que não conseguiste aprender no ruído do mundo até agora.
Elege a tua árvore e mesmo vivendo no meio do betão, não desistas: haverá sempre o teu silêncio e a tua imaginação…
Não importa a tua idade, importa o teu estado de adiantamento e se a vida não te ensinou o que era necessário, podes começar agora a fazer o teu aprendizado.
Confia nos desígnios de Deus: a cada dia a sua sabedoria...
… e quando chegar a tua hora, quando por fim tiveres tudo cumprido um anjo virá avisar-te…

Capítulo XXI

»» A História no feminino: Helena Petrovna Blavatsky

Ao longo da história, o conhecimento do oculto sempre fascinou o ser humano.
Quase sempre desenvolvido em lugares marginais da sociedade, é uma fonte de atração onde muitos querem entrar e aqui, permitam-me uma opinião um pouco feminista: homens e mulheres têm motivações diferentes nessa procura.
Enquanto os homens veem no acesso a esse mundo misterioso uma forma de ascensão e supremacia social, a mulher procura nesse conhecimento as respostas às questões que a sua natureza mais sensível lhe coloca.
Em geral a mulher releva para segundo plano as vantagens mundanas que este tipo de conhecimento, vedado à maioria, lhe poderia proporcionar.
A sua busca tem mais a ver com a vontade de aceder a verdades ocultas como forma de entender os seus inúmeros questionamentos íntimos.
Não é uma regra absoluta: nem sempre, nem nunca, como é obvio!
Certo é que ligado aos temas do mistério ou oculto, são poucas as mulheres que tiveram lugar de destaque nessa aquisição e transmissão de conhecimentos registados para as gerações seguintes.
Na minha opinião, poderão ser três as razões para tal se verificar: o conhecimento era vedado às mulheres por não lhes ser reconhecido o mesmo nível intelectual do homem; porque quem tem o poder (os homens) acham que são assuntos sérios demais para a sua aparente fragilidade; por último, esta explicação é da que gosto mais - pelo medo do que a sagacidade feminina é capaz quando em pé de igualdade com o homem.
Brincadeiras à parte, o facto é que a história antiga está repleta de figuras masculinas destacadas, em áreas como a filosofia, as artes, o ocultismo, a magia, enquanto que o papel da mulher é insignificante ou nem existe.
Este meu espanto, nem sequer tem razão de ser, quando observamos o papel da mulher na atualidade que continua a ser secundarizado relativamente ao homem e mesmo quando acede a lugares cimeiros é por um esforço maior, para atingir os mesmos objetivos.
E não por falta de capacidades, mas porque a malha masculina se fecha quando se trata de deixar avançar uma mulher, para os lugares apetecíveis de poder ou projeção social.
Isto é o que se passa nas chamadas sociedades ditas evoluídas, porque se quisermos ser sérios, em algumas culturas, a mulher tem somente valor reprodutor.
Certo é que por entre uma lista infindável de personagens no masculino: Apolônio de Tiana, Heráclito, Hermes Trismegisto, Sócrates, Platão, Pitágoras, Bacon, Newton, Einstein e tantos outros, cujas obras chegam ao nosso tempo com prestígio reconhecido, poucas são as mulheres que mereceram igual destaque.
Não existiram obras, ou tratando-se de mulheres eram propositadamente ignoradas?
Destacava da antiguidade, Hipátia, (351/370 – 415 d.C,) a filósofa de Alexandria, neoplatônica e matemática, que atingiu lugar prestigiado à época, como chefe da escola platónica de Alexandria. Um dos seus alunos célebres foi o filosofo e bispo Sinésio de Cirene (370-413 dC).
Relevo ainda, já no Sec. XIX Helena Petrovna Blavatsky, escritora russa, responsável pela sistematização da moderna Teosofia e cofundadora, com o coronel Henry Olcott da Sociedade Teosófica em 1875.
Personalidade fascinante, pela coragem e independência. Aventureira, viajou um pouco por todo o mundo, mas foi no Tibete, mundo fechado aos ocidentais e mais ainda às mulheres, que ela adquiriu os conhecimentos para o desenvolvimento da sua grande, mas pouco divulgada obra.
Casou jovem, divorciando-se pouco depois e muito jovem ainda, percorreu o mundo em busca de conhecimento que atendesse às inúmeras questões do seu espírito inquieto, bem como acerca dos poderes sobrenaturais que detinha.
Movimentando-se entre o exoterismo e o esoterismo, pelos dons psíquicos incomuns, nem sempre foi levada a sério, embora tenha deixado grandes obras como a Doutrina Secreta, Isis sem Véu, a Voz do Silêncio e muitos outros documentos complementares dos seus livros.
É no Tibete, que ela desenvolve e educa os seus poderes paranormais, a fim de que pudesse apresentá-los como instrumento para a instrução do mundo ocidental.
Figura controversa, Helena Blavatsky deixou uma obra diferente, de difícil aceitação e até negação, tal os conceitos apresentados que se não encaixavam no momento histórico em que surgem.
A religião vivia uma crise de fé, face à evolução da ciência e da tecnologia e dá-se por essa altura o aparecimento de várias escolas de ocultismo ou de pensamento alternativo, muitas delas com base conceitual pouco firme ou desenvolvendo práticas apenas intuitivas mas que ganhavam grande número de adeptos em virtude do fracasso do Cristianismo em fornecer explicações satisfatórias para várias questões fundamentais da vida e sobre os processos do mundo natural.
A obra de Blavatsky pretendeu reafirmar o divino, sem oposição à ciência, ao mesmo tempo que faz uma crítica à religião institucionalizada, com o seu dogmatismo e a superstição de todos os credos.
Defende a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da cega através da razão.
Bateu-se contra a intolerância e o preconceito, atacou o materialismo e o ceticismo arrogante da ciência, e pregou a fraternidade universal.
De uma forma desapegada, nunca pretendeu formar uma nova religião, nem se reclamou proprietária das ideias apresentadas.
Pelo contrário fez questão de apresentar ao ocidente o resultado de um trabalho de anos, traduzido numa síntese de conceitos, técnicas e interpretações de uma grande variedade de fontes filosóficas, científicas e religiosas do mundo, antigas e modernas, organizando-as em um corpo de conhecimento estruturado, lógico e coerente que compunha uma visão grandiosa e positiva do universo e do homem.
Com isso a Teosofia se tornou, ainda que contestada por vários críticos, um dos mais bem-sucedidos sistemas de pensamento eclético da história recente do mundo, unindo formas antigas e novas e promovendo pontes entre mundos diferentes.

Capítulo XXIII

»» Processando o egoísmo

O comportamento humano estrutura-se e desenvolve-se em três pilares fundamentais: a genética, a educação e a influência que recebe o seu inconsciente social e coletivo.
Os três são importantes para o desenvolvimento intelectual e emocional, pelo que falhando ou sendo insuficiente qualquer um desses pilares, a pessoa corre o risco de desestruturação e erro.
Nesta combinação, temos como resultado a personalidade, que pode ser melhor ou pior de acordo com a salubridade destes três fatores.
A genética por si só não se educa, a educação sem as condições genéticas adequadas também não tem sucesso e por fim a influência boa ou má do meio envolvente depende da boa estruturação das duas condicionantes anteriores.

No estudo do comportamento humano, duas personalidades se destacaram: Freud e Jung.
Freud separava o funcionamento da mente em consciente e inconsciente, enquanto Jung, seguindo a linha do seu antecessor, ia mais além, acrescentando o inconsciente individual e coletivo e os arquétipos como fenômenos intrínsecos em cada ser vivo.
A complexidade do ser é uma luta constante entre o Self profundo e o Ego superficial.
Desde a conceção à infância é o Self que prevalece, simbolizado na mãe da criança, mas quando esta se começa a autonomizar, a ter consciência de si, dá-se uma separação psicológica entre as duas e começa a florescer o ego no ser em crescimento.
A partir desta etapa os fundamentos da personalidade começam a destacar-se, sendo nesta fase a educação e a formação o fator fundamental para o desenvolvimento harmonioso do individuo.
Claro que como seres sociais vivendo em comunidade é inevitável o desenvolvimento do ego sofrendo todas as influencias do meio, individual e coletivo.
E aqui é o tudo ou nada, porque o crescimento não é uma fórmula matemática.
É assim, que em diversas situações, a educação pode não ter falhado, mas falhou a genética e se não foi a genética, pode ter sido o meio envolvente que estragou aquilo que tinha tudo para dar certo.
Por outro lado e noutras situações, observamos que a base de formação do individuo é deficiente ou insuficiente, por vezes até com uma genética aparentemente comprometida e no entanto formam-se personalidades fortes e promissoras.
A mente continua a ser um processo extremamente sofisticado e ainda pouco explicado.

O ser humano, não é um molde que sai sempre bem.
Pode ter tudo certo e ficar errado e pode ter tudo errado e transformar-se, por fatores que desconhecemos ou não controlamos, numa personalidade bem estruturada.
Quando o ego entra em conflito com o eu profundo, há desequilíbrio emocional e o que aflora é o egoísta, que é todo aquele que coloca os seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento de tudo o resto.
Prevalecem neste tipo de pessoa, os instintos agressivos. O ego assume o comando, trazendo à superfície os conflitos de insegurança, de insatisfação, de morbidez, que são ainda as marcas dos períodos remotos da civilização, antes do surgimento das emoções superiores.
Quando é o ego a liderar, observamos no indivíduo a atitude vigilante, dominadora, numa luta contínua para se manter na posição conquistada e com medo de a perder.
Torna-se agressivo, exibindo qualidades que não possui, como forma de encobrir o seu complexo de inferioridade em relação a uma maior evolução intelectual e emocional.
Rodeia-se de direitos que legitimamente não merece e teme lhe sejam retirados, ao mesmo tempo que procura cumprir as suas obrigações.
O ego tem na sua génese a fraude, pois se veste de presunção, avareza, ciúme, desconfiança, censura aos demais, para dessa forma não chamar a atenção sobre sua verdadeira e doente natureza.
O egoísta mascara-se de gentileza para ocultar a mesquinhez do seu caráter, quando se promove e exibe qualidades que não tem, tornando-se ríspido sempre que não lhe é reconhecido o estatuto que julga possuir. Nessas condições, transforma-se em adversário violento e irracional. Quando desmascarado, mostra a sua verdadeira face ao fomentar a maledicência procurando dividir para melhor reinar.
Daí que os que assim procedem vivem numa inquietação, fruto da sua imaturidade espiritual e essa sua perturbação prejudica os demais, com as constantes queixas e enfermidades parasitas da agressividade ou da autopiedade.
Habitualmente nunca assumem a responsabilidade destes comportamentos, preferindo a vitimização para assim escaparem da responsabilidade que sempre é sua.
Incapazes de compreender a missão do ser humano e o sentido da sua existência terrena, fazem-se desentendidos essencialmente no que diz respeito ao seu insucesso, que atribuem sempre a terceiros.
O pensamento foi dado aos homens e mais elaborado ou mais rudimentar, o sentido de pensar exercita a inércia a que muitos preguiçosos se entregam para não procurar as respostas para o sentido da própria vida.
Quando essa preguiça de refletir se junta com um ego insuflado, temos o déspota perigoso, mais ainda quando este se presta a ser a marionete de poderes de bastidores.
É este, um ser medíocre que amontoa tesouros, apenas pela sensação de ter e em geral não sabe bem como os usar, menos ainda partilhar, entendendo que o ouro que possui tem o tamanho que gostaria que tivesse.
Orgulhoso, cede com gosto à bajulação e aos aplausos dos demais como compensação das angústias existenciais.
Quer ter sempre mais, sem querer ser melhor.
Exige um respeito que não merece, mas que lhe é dado pelo poder que detém.
É temido, mas não amado, um ser solitário que se esconde na sombra de quem julga ser, num engano escalando socialmente vícios que o dinheiro compra com abundância: drogas, sexo, álcool.
Perceção deturpada e patológica, quando se acha merecedor do que não semeou.
Isola-se em si mesmo e aí começa o processo de destruição ou de regeneração. E finalmente aí, resta a esperança reformuladora, porque o homem precisa chegar ao seu limite para acordar do desperdício que são muitas das vidas que vive.
O nosso egoísmo, vaidade, ganância e a maldade contra o semelhante, são obstáculos de que ainda não nos sabemos desviar e geradores das doenças de que não nos querermos curar.
Presente em todas as etapas da humanidade, amplamente instalado em todos os segmentos da sociedade, o egoísmo é uma doença perigosa, só combatida pela ética e pela moral difundidas pelas diversas doutrinas.
Necessita de terapia preventiva e tratamento persistente depois que se encontra instalado, numa permanente vigilância por conta dos seus inúmeros disfarces.
Mas tal como o espírito vai fazendo o seu caminho em direção aos objetivos essenciais da sua existência na terra, o egoísmo também se dilui pouco a pouco, cedendo lugar à solidariedade e às emoções mais elevadas.
A humildade vai surgindo naturalmente quando começa a compreender a grandeza da vida e que também ele, egoísta, pode cooperar na obra magnífica da Criação.
Enquanto se atormenta nas sensações do medo, da incerteza e das suspeitas, a prepotência alucina-o.
Porém, quando percebe que a sua segurança se encontra no ser e não no poder, nos valores internos e não nas aquisições de fora, passa lentamente para os comportamentos pacíficos e pacificadores.
Capítulo XXIV

»» “Memento mori”

Lembra-te que morrerás”

Há premissas que perturbam e nos fazem refletir sobre o real sentido da vida.
Algumas perdem-se no tempo e na memória, mas continuam tão atuais, como atual é a vida e a morte.
Em todas as épocas, pensadores se debruçam sobre os temas mais difíceis ao entendimento humano, com a missão de acordar as consciências para o modo de viver inconsequente a que o ser humano constantemente se entrega.
E um dia chegará em que teremos que fazer o balanço do que foram os nossos dias na terra.
Apenas duas colunas, deve e haver, serão suficientes para abalizarmos como está a nossa contabilidade espiritual.
É preciso pois, uma contabilidade organizada, com todos os impostos pagos e as obrigações em dia.
No séc. XXI muitos de nós vivem como se a morte não existisse.
Como se o progresso que o ser humano alcançou tivesse eliminado a morte do seu destino.
Daí que muitos vivam irresponsavelmente, usufruindo de tudo, vivenciando todas as experiências sensoriais, sem se preocuparem em alimentar saudavelmente o espirito, que esse sim está no comando da boa existência:

Orai e vigiai” dizia Jesus.
Jesus sabia que o alimento do espirito é mais importante que o alimento do corpo.
Não são precisas igrejas, grupos de meditação, de estudo, para orar e vigiar. Basta aceder ao lugar sagrado que existe em cada um de nós e procurar pela verdade.
E a verdade está sempre lá, à nossa espera para nos esclarecer e indicar o caminho a seguir.

Quando a dor da alma é imensa e a frustração ataca, com toda a humildade e sem as máscaras que colamos em nós, de que cada vez é mais difícil libertarmo-nos, façamos as perguntas e ouçamos as respostas.
Assusta, mete medo?
Sim!
Erradamente achamos, que essa introspeção nos vai desorientar, fragilizar, questionando tudo que até ali demos por adquirido, porque a maioria de nós não está preparado para a revolução que se segue.
Pelo contrário, todo o processo fará de nós pessoas mais fortes e mais capazes de estender a mão, pedir ajuda, dizer que não...
A oração silenciosa e honesta que dirigimos ao nosso Eu, nas etapas difíceis da vida, liga-nos ao divino e às soluções que não vislumbramos, pelo frenesim em que embarcamos inconscientemente.
Essa introspeção vai liberar a coragem que precisamos para resolver os nossos problemas.
Façamo-lo sem truques e sem mentiras.
É necessário fazer essa viagem muitas vezes sim!
Ir, de vez em quando a esse lugar, onde mora a criança que ainda somos, indefesa, insegura…
Perguntar-lhe se é feliz, de que precisa, para onde ir…
Se vive a vida que quer, ou a que os outros querem que viva; se vive a sua realidade ou a realidade dos outros…
Desnudemos a nossa alma, separemos quem somos a sós, de quem somos socialmente.
Incapazes de viver por nós mesmos, procuramos copiar dos outros o que parece ser a fórmula do sucesso social, mas com o tempo, essa escolha vem a revelar-se uma cadeia sem grades, que não nos deixa crescer, menos ainda sermos felizes.
Muitas vidas se perdem pelo orgulho e pelo preconceito, porque quando percebemos a vida de fantasia que abraçamos, já são demasiadas as amarras, que não temos a coragem de cortar, porque seria admitir o insucesso e a sociedade o julga de forma impiedosa.
O nosso orgulho, baseado na premissa errada, não permite abrir a porta para um pedido de socorro e o preconceito fecha-a muitas vezes a cadeado.
Somos frágeis emocionalmente, vulneráveis.
Aparentemente felizes e fortes quando nos alimentamos da imagem que mostramos aos outros e que até certa altura nos alimenta.
Só que essa frágil aparência, na primeira adversidade pode ruir e mostrar o nosso verdadeiro estado.
A coragem falha e já nem todo o investimento feito para copiar o glamour nas nossas vidas nos consola, porque só nós sabemos a fraude que construímos.
Quantos nestas circunstâncias fogem pela porta do suicídio.
Quantos não tem a coragem de gritar um pedido de socorro. Sofrem em silêncio pelo insucesso a que chegaram.
Não percebem até como chegaram a esse ponto, pois na sua ilusória perspectiva fizeram tudo bem…
Mas não fizeram!
Estamos no mundo para sermos felizes e a felicidade passa pelo nosso bem-estar profundo. Não se é feliz pelo que se tem, mas pelo que se é.

Quando nos preocupamos com os outros mais do que connosco, pela bondade do nosso coração. Quando queremos que o mundo admire o brilhantismo da nossa vida, sabendo da inveja social e da maldade dos que nos cercam, estamos a construir uma casa com frágeis fundações, que a qualquer altura pode ruir.

Há seres que vem ao mundo com um sentido de responsabilidade tão profundo sobre os outros, família, amigos, ao ponto de se esquecerem de si próprios e um dia acontece a fatalidade porque a mente não é elástica e tem os seus limites ao sofrimento.
E como nunca conhecemos verdadeiramente o outro que até dorme ao nosso lado, quando alguma atitude radical acontece ficamos em choque.

O verdadeiro amor intui o outro, mas por vezes de tão habituados às drogas com que aconchegamos as frustrações e alguma insónia, nem percebemos que quem se deita ao nosso lado não dorme, nem vive…
Daí a surpresa com que o suicídio apanha muitas pessoas.
Por isso, lembra-te que morrerás e ao invés de olhares a morte como uma sentença, olha-a como uma oportunidade, vigiando os teus passos no caminho da verdade, pois só ela te fortalece e te permite ser feliz.
Aproveita bem, que o tempo não espera por ninguém e cura a tua alma dos vícios do homem velho: egoísmo, orgulho, cobardia, vaidade, preconceito, soberba…
Demonstra a tua gratidão por estares aqui, procura ser melhor e fazer melhor…
Não aceites o teu destino como castigo.
Entende-o como o caminho novo e escolhe como o queres percorrer…
Seria bom, que ao terminarmos a nossa estadia na vida, tivéssemos riscado dela alguns defeitos que trouxemos e acrescentado algumas qualidades para levar.
Aí sim, teríamos feito progressos.
Sem vínculos exagerados ao passado e sem expectativas ilusórias sobre o futuro, vivamos o presente com o que se tem e por certo, se fizermos bem a nossa parte Deus também colabora.

… quando os nossos atos são positivos, os resultados serão positivos também!

Capítulo XXV

»» Perceber a morte

Nós que temos explicações para quase tudo!
Que nos achamos, como seres deste século, perfeitamente preparados para todos os eventos da vida, com conceitos (embora teóricos) muito definidos e determinados.
Só sabemos que nada sabemos do fenómeno Morte.

Afinal o que é a morte?
Um fim, um novo começo?
Na realidade ninguém sabe!
Podemos deduzir muitas coisas de acordo com a nossa religiosidade ou o nosso intelecto, mas apenas deduzir.
Sabemos apenas, que a morte é sempre o fim de qualquer coisa!
De preferência, que tenha sido de algo que tenha valido a pena.
Que não tenha sido o terminar de uma vida desperdiçada na ilusão de um controle que nunca temos.
Hoje, vivos ainda, façamos o exercício da visitação da morte.
Que lhe diríamos se ela chegasse de surpresa?
Estaríamos prontos para seguir na incerteza?
Teríamos medo, porque é assunto de que pouco se fala na nossa cultura ocidentalizada?
A morte é a morte ponto!
Chegará a todos, sem telegramas a avisar. Sem tempo sequer para fazer uma simples mala para levar na viagem.

Felizes, pois, os que se preparam!
Os que tem a bagagem pronta e o ato de contrição feito.
Felizes os que encaram a morte sem sofrimentos mórbidos, mas como um ciclo que naturalmente terá que terminar.
Deus na sua infinita bondade, faculta-nos uma sabedoria da morte e através dela são-nos dados sinais para a nossa preparação.
Todas as culturas aceitam de formas diferenciadas este tema.
Em muitas, é tabu falar de morte: é morbidez!
Quando assim é, o sofrimento é inevitável porque nunca estamos avisados.
Quando quem morre cumpriu todo o ciclo: viveu e entendeu como seu objetivo, o engrandecimento, a partilha, a solidariedade; se amou seus pais e seus filhos; se cumpriu as suas obrigações como ser em desenvolvimento espiritual; se ficaram exemplos de bondade; deixou as suas raízes na terra e projetou os seus ramos para o céu, nunca terá medo de deixar o mundo.
Há os que partem inesperadamente, sem tempo para perceber o que acontece.
Crianças que morrem de tenra idade deixando nos vivos a revolta e o desespero.
Esses precisam ser amparados e são-no por entidades que os recebem para os ajudar no processo de passagem.
Por isso as narrativas no leito de morte, feitas por muitas pessoas, alegando a presença de entes queridos já falecidos, junto deles na hora do desligamento.
Ninguém nasce sozinho e isso nós constatamos: no mínimo será uma mãe e o seu filho.
Do mesmo modo ninguém morre sozinho, porque no momento da morte, há sempre um espírito bom e amigo que vem acolher o ser que deixa a terra em desorientação, seja no caso de morte natural, acidente, doença súbita e outras situações que causam a perturbação e o medo.
O amor do Pai não deixa ninguém desamparado!


“Eu vi-a chegar: olhava-me o rosto.
Vestia de negro, solene o momento!
Senti-lhe o abraço, já sem ver quem era.
Ouvi-a chamar-me:
És tu quem me chama?
E devo ir contigo?
A boca me seca, não sei a que sabe...
Na inércia, meu corpo arrefece.
Velas que ardem, aromas de flores…
Estranhos odores, meu corpo apodrece.
Vozes me cercam que ainda reconheço…
Meus filhos amados, queridos amigos...
Fiquem mais um pouco que em breve me vou…”

Capítulo XXVI

»» Um novo começo

Errar é humano e faz parte do percurso de vida de todos nós.
Quem nunca errou que atire a primeira pedra!
Errar é, no entanto, uma oportunidade de acerto: só erra quem tenta.
Quem se acomoda, só aparentemente não erra. Por si só a passividade é um erro que não permite evoluir como seria desejável.
Se perfeitos fossemos por certo estaríamos num outro plano, ou seríamos um desses seres iluminados que periodicamente vêm à terra.
O erro é o grande mestre que sempre avisa e ensina!
E como a vida não é uma fórmula exata, precisamos criar a nossa própria fórmula, adequada aos desafios que precisamos ultrapassar, aproveitando as dificuldades para a melhorar e adaptar às nossas necessidades de aprimoramento.
O ser humano que erra e toma consciência do erro, corrigindo o trajeto, mostra que está no mundo para evoluir espiritualmente.
Há esperança nas pessoas que erram, que assumem e procuram evitar novo erro.
Muitas nunca o admitem, pois se sentem vulneráveis pela admissão de erros pessoais, porque provavelmente, se construíram olhando o espelho errado.
Assumir os erros não intencionais fortalece, ao invés de fragilizar. Promove nos outros a sensação de confiança e respeito.
Todo o caminho individual tem estradas retas e curvas. Geografias variadas e roteiros diversos.
Não nascemos com manual de instruções.
O único manual orientador são os nossos referenciais familiares; os nossos genes; os exemplos que absorvemos ao longo do crescimento.
E ao contrário do que muitos querem fazer crer, ninguém controla o destino.
Podemos tomar cuidados, vigiar as nossas ações, mas a má decisão pode surgir em cada momento da vida.
Matar, morrer, adoecer, ofender outros em defesa própria.
A cobardia, o heroísmo, a fragilidade despertada por situações diversas pode fazer de nós pessoas piores, sendo habitualmente pessoas boas.
Porque somos feitos todos do mesmo barro, ninguém tem o direito de acusar e embora aconteçam todos os dias crimes horrendos praticados por pessoas aparentemente normais, há infelizmente cabeças muito fracas que se justificam com passados traumáticos, faltas de afeto e muitas outras motivações.
Nada desculpa a falta de vigilância e autocrítica porque são muitos os perigos que rondam o ser humano, quando não se abriga sobre o manto do amor e da fraternidade.
Só a psicologia explicará convenientemente comportamentos extremos e perigosos que surgem inesperadamente de quem nunca se esperaria.
A lei dos homens numa primeira fase e a lei de Deus depois, lá estarão para avaliar as culpas e as atenuantes de todos nós.
Homens e mulheres que matam os filhos que talvez nunca tenham amado. Filhos que matam pais que, por certo, os amaram da maneira errada.
Num mundo que se diz civilizado, mas com seres cada vez mais frios de sentimentos, tira-se a vida a qualquer pretexto. Banaliza-se a morte!
Pessoas que alegam ter amado outras e que por um sentimento de posse lhes roubam a vida, sem olhar a consequências.
Sem olhar sequer, ao roubo que fazem também a filhos apanhados em meio de guerras de adultos, que na verdade o não são, porque se o fossem teriam crescido no afeto.
Muitas sombras nos cercam e não sabendo, ou não querendo procurar a luz que as dissipe, emergem em nós quantas vezes, instantes de crueldade que podem mudar irremediavelmente o nosso destino.
O ser humano é capaz do melhor e do pior e sempre que deixa à solta o lobo que melhor alimenta, torna-se lobo também e mata sem consciência e sem sintoma de culpa.
Por isso é importante a reflexão, a vigilância, porque tudo vale a pena, já que a alma não é pequena e viaja connosco por muitos lugares e durante muito tempo.
Amemos essa alma, esse espírito que nos anima e façamos da vida neste plano uma escola onde viemos para aprender e aperfeiçoar o que já somos.

Francisco Cândido Xavier foi um médium brasileiro, falecido em 2002, com 92 anos e que deixou uma grande obra assistencial no Brasil.
Ele dizia com toda a legitimidade:

“Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas pode começar agora a fazer um novo fim”

E porque esta é a minha certeza do certo, partilho inteiramente deste conceito.
Não podemos ir ao passado apagar os erros cometidos, intencionalmente ou não, mas podemos eleger o nosso presente (praesens, ēntis) e darmos a nós mesmos e aos outros essa dádiva, esse presente a cada dia.

A criança que começa a dar os primeiros passos, cai frequentemente, mas levanta-se para cair de novo. Na tentativa, aprenderá a manter-se em pé e em breve saberá andar sem cair.
Nós somos assim com os nossos erros e tal como a criança que quer aprender a andar, também nós vamos deixando para trás o medo para aprendemos a ficar de pé, conscientes de que a vida nos ensina e fortalece.
Ninguém tem que ser crucificado pelos erros cometidos: Jesus fez isso por todos nós, dando-nos nova oportunidade.
Dêmo-nos também a oportunidade de um novo começo, em qualquer altura, com a consciência de que vivemos para sermos felizes e bons e isso…

…não é, nem nunca será incompatível!

Capítulo XXVII

        »» Alienação


És a medonha trivialidade.
Da vida retiraste a profundez
Gastas o tempo,
estranhas a lucidez
que insiste em procurar-te a toda a hora

Tens medo do silêncio
e da magia do eu
e pouca ou nenhuma sensatez.
Envolves-te no ruído,
dos templos de perdição.

Enganas o coração
na luxúria dos panos em que te envolves.
Acorda enquanto podes, olha em redor:
percebe que é breve a vida e sem sabor,
enquanto insistires nesse louco acontecer...




BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:








A verdade é uma estrela,
quebrada em milhões no lodo.
Cada pessoa que a busca,
encontra um pedaço do todo.





























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